Interlúdio #3 - Capas de Mangás + Um Pouco Sobre o Mercado Editorial Brasileiro de Mangás


 

 Recentemente foi lançado aqui no Animelancolia a Trilogia do Pensamento. Três textos sobre 4 obras diferentes: Shoujo Shuumatsu Ryokou, Romeo x Juliet e Her Tale of Shim Cheong e NHK ni Youkouso!. Essa trilogia me tomou bastante tempo pra ser escrita, e todos os textos estão no ranking de posts que mais exigiram pesquisas da minha parte. No geral, além de ter lido alguns livros, também fiz muitas pesquisas externas. Então, esse texto aqui vai ser o exato contrário disso tudo. Quero tirar esse post unicamente pra falar sobre as capas de mangás que mais gosto, sem precisar pesquisar qual a importância de uma capa, como isso afeta as vendas e coisas do tipo (mas vou deixar algumas opiniões sobre as mídias físicas e informações sobre como comprar alguns dos mangás citados). É um post que existe unicamente para reverenciar os desenhos bonitos de um monte de artistas incríveis, desde a Ai Yazawa até o Hirohiko Araki.


 Eu não poderia começar falando sobre belas capas de mangás por outra coisa que não fosse minha autora favorita, a inigualável Ai Yazawa, autora da obra mais importante da minha vida, NANA. Imagino que qualquer pessoa que leu NANA deve ter percebido que as capas são sequências umas das outras. Começa com a Nana Ozaki sentada no cenário mais emblemático da obra, e termina com as duas Nanas caminhando na neve depois de terem passado o dia inteiro se divertindo juntas. Talvez seja até possível teorizar que as capas seguiriam a mesma lógica, mas agora com as Nanas separadas. De certa forma, a história foi pausada em um momento de ruptura, relativamente. Nesse caso, talvez NANA tenho sido pausado em exatamente metade de seus volumes que teriam no total. Considerando a tendência que Ai tem à simetria.

 No entanto, essa ideia de capas sequenciais não é algo novo nos trabalhos da Ai Yazawa. Ela já havia feito isso muito antes de NANA ser publicado. Como ela fez nos mangás de Gokinjo Monogatari, onde as sete capas formam um painel com todos os protagonistas em um piquenique, e fez algo semelhante em Paradise Kiss, onde cada uma das cinco capas apresenta um dos protagonistas cercado por teias de aranhas e vários detalhes em alto-relevo. Esse tipo de capa exemplifica bem o controle que a Ai Yazawa tem ao criar uma narrativa. Tanto em Gokinjo, quanto em ParaKiss, ela provavelmente sabia o exato número de volumes que cada uma das obras teriam. E em momento algum as suas histórias ficam com o ritmo mais lento ou mais rápido de como eram inicialmente.

 Ainda sobre a Ai Yazawa, vale a pena ressaltar as capas de suas republicações e edições comemorativas. Ela tem algumas assim, mas quero destacar apenas duas. O relançamento de Tenshi Nanka ja Nai, em 2019, onde os 9 volumes foram recompilados em apenas 5, e cada um desses 3 volumes ganhou uma capa inédita desenhada pela Ai. E também, um destaque para a edição de 20º aniversário de ParaKiss. Essa edição ficou lindíssima, com as novas capas da Ai Yazawa ressaltando esse lado mais ousado da moda.

 Hoje em dia deve ter muito leitor de mangá que nem conhece a Ai, mas essa mulher foi um titã na indústria de mangás. Enquanto recentemente teve aquele polêmica entre os fãs de Kimetsu no Yaiba e One Piece sobre os rankings de vendas, bem antes disso NANA já havia destronado One Piece várias vezes no ranking da Oricon de volumes individuais mais vendidos. E provavelmente só não ganhou no ranking geral de vendas porque NANA lançava apenas 2 ou 3 volumes por ano, enquanto One Piece lançava 12. É isso que é NANA, um mangá com uma importância inquestionável em diversos aspectos diferentes e que inclinou à visão de mercado para outras obras que posteriormente também alcançariam o topo dos rankings de volumes individuais mais vendidos, como Nodame Cantabile.

 Um pouco sobre as edições de obras da Ai Yazawa no ocidente. Se você tiver muita paciência e disposição pra procurar, em algum momento você pode encontrar todos os 21 volumes da primeira publicação de NANA por um bom preço. Eu consegui comprar toda a coleção em ótimo estado de conservação por apenas 150,00 R$. Se eu quisesse, poderia revender facilmente por aproximadamente 600,00 R$. Felizmente, não pretendo fazer isso. Mas caso você queira apenas ler NANA em mídia física sem se importar com o valor histórico da edição antiga, a editora JBC anunciou recentemente que NANA receberá reprint depois de tantos anos. Pra edição antiga da Conrad de ParaKiss, também é possível encontrar a coleção completa por um bom preço. Essa eu também adquiri no Mercado Livre em ótimo estado de conservação por 120,00 R$. Mas, caso você não queira esperar comprar a belíssima edição da Conrad, você tem a opção de comprar a edição da Panini, que, surpreendentemente, comprou os direitos de publicação da obra e ainda lançou com um material MUITO superior a maioria das outras obras da editora. O papel tá excelente, muito mais fácil de ler do que a versão da Conrad, e ainda tem capas inéditas cheias de detalhes. Tá um primor. Já as outras duas obras citadas anteriormente, TenNai e Gokinjo Monogatari, não existem edições nacionais. É possível adquirir versões em inglês de ambas, por um valor bem pouco atrativo. Não preciso nem dizer que recomendo fortemente todas as obras da Ai Yazawa, incluindo as que não foram citadas, como o excelentíssimo mangá de mistério Kagen no Tsuki.


 Pra terminar essa primeira sessão de menções, vou voltar a ideia que a Ai usou em suas obras de fazer capas sequências, e citar duas obras que também fazem o mesmo; Citrus e One Punch Man.

 No mangá de Citrus, a cada duas capas, temos uma nova combinação de artes da Yuzu e Mei. As capas trazem bastante desse lado mais passional da obra. A combinação de cores e os números de cada volume em sua disposição na capa, ambas são bem legais. Além disso, cada capa diz bastante sobre o que está acontecendo na história no respectivo volume.

 Já One Punch Man trouxe esse painel unindo várias capas de volumes diferentes pra formar uma única imagem. Detalhe que todas as capas, tanto essas de Citrus quanto as de OPM, são muito bonitas individualmente. A única exceção fica para uma das imagens do volume 20 de OPM, que acaba sendo a mais sem graça da arte como um todo.

 Coincidentemente, ambas as obras são publicadas no Brasil. Citrus é publicado pela NewPop e é incrivelmente fácil encontrar a obra em promoção na Amazon (aliás, acho que eu já deveria ter citado que esse não é um post patrocinado, infelizmente) por um preço bastante acessível. Já as cômicas aventuras do homem de um soco só é publicada pela Panini. Não sei quanto ao material, mas o preço é bem salgado, como esperado da Panini.


 Vou encerrar a sessão fanboy da Ai Yazawa. É hora de começar a sessão fanboy da Nio Nakatani.

 Todas as capas dos 8 volumes de Yagate Kimi ni Naru são perfeitas, sem exceções. Dessa vez, no entanto, quero falar especificamente sobre a capa do primeiro volume, que é minha capa de mangá favorita, contando tudo que já li. Yuri é um gênero que sempre traz ótimas artes da capa. E entre todas as capas de mangás desse gênero, a arte do volume 1 de YagaKimi é uma que acho que consegue alcançar o status de emblemática. Uma das características que quase sempre é ressaltado nas capas de YagaKimi, são as diferenças entre a Yuu e a Touko. Sejam suas roupas, os laços em seus uniformes escolares ou as expressões que elas fazem em cada arte. Nessa arte do volume 1, pode se dizer que a altura delas e a relação senpai-kouhai é o que está sendo ressaltado, mas eu realmente acho que é muito mais profundo que isso. Na imagem, apesar da Touko tocar gentilmente o rosto da Yuu, também existe uma certa malícia em seu olhar. O que caracteriza o seu posicionamento mais impositivo em como a relação das duas estava durante toda a trama desse primeiro volume. Já os olhos da Yuu aparentam receio, ao mesmo tempo em que expressam uma certa curiosidade. Se prestarmos atenção um pouco mais, podemos perceber que a boca da Yuu já está levemente aberta, como se ela esperasse ser beijada, mesmo que ela ainda não entenda e tema muitas coisas. É uma arte muito expressiva e que diz bastante coisa sobre a trama do primeiro volume e os temas abordados nesse que é o meu segundo mangá favorito da vida.

 Essa capa se tornou bastante icônica. O site natalie.mu afirma que YagaKimi se tornou uma figura monumental entre os mangás yuris. Se você for procurar as capas dos volumes 1 dos mangás yuris que vieram depois de YagaKimi, vai perceber que muitos deles reverenciam à obra, ao trazerem capas semelhantes, com personagens femininas se entreolhando de perfil. Yagate Kimi ni Naru eventualmente se tornou um marco entre os mangás que abordam sobre sexualidade.

 YagaKimi também é publicado no Brasil pela Panini, ao invés de ser pela NewPop, como muitos queriam. Eu recomendo não apenas a leitura, mas também a compra da obra. Apesar de isso estar mudando, mangás queer no geral ainda merecem mais reconhecimento, para assim receberem mais títulos aqui no Brasil. Infelizmente eu sei muito bem que ainda existe muito preconceito e desinformação contra esse tipo de gênero. Então, quanto mais apoio tiver, mais obras teremos e mais informações corretas as pessoas receberão. Por isso, é importante adquirir a mídia física. Infelizmente, não posso dizer que a Panini fez um trabalho com o primor que YagaKimi merecia. O material é o padrão da Panini, que, particularmente, nem acho tão ruim quanto dizem. No entanto, tem alguns momentos da obra que foram traduzidos da maneira mais estúpida possível. Pra falar sobre isso, darei alguns spoiler sobre a obra. Caso você ainda não tenha lido o mangá ou queira evitar spoilers, basta descer a página rapidamente até chegar na próxima imagem colorida.

 Têm algumas traduções estranhas que não atrapalham, como essa:

 Por alguma razão, a Panini achou que seria legal colocar o nome científico desse bicho fofinho, ao invés de simplesmente colocar o nome normal do polvo flapjack. Quem fala nome científico de animal em uma conversa casual com a namorada?

 Mas, também tiveram traduções preguiçosas da Panini que destruíram o contexto da cena:

 Talvez não tenha ficado muito claro para os mais desatentos, então vamos dar uma olhada na versão original e na versão de scan:

 Agora deve ter ficado claro para todos. Quando tem esse balão de pensamento em que a Yuu finalmente assume que está apaixonada, o pensamento dela é reprimido pelo balão de fala em que ela, com raiva, chama a Touko de idiota. É uma cena simplesmente brilhante, onde a Touko colocou a Yuu em tal situação em que sua raiva está suprimindo o seu primeiro amor. Isso pelo fato dela odiar que a Touko despreze a si mesma. Por isso o balão de fala está por cima do balão de pensamento em que ela diz que ama a Touko. É uma cena brilhante em que, novamente, o tema de diferenças e aceitação é lindamente exaltado. No entanto, os editores da Panini tiveram preguiça de fazer um simples redraw. Como na versão da Panini a frase do balão de fala está completa, o contexto está completamente arruinado.

 E ainda tem o pior de todos, a tradução que me doeu na alma:

 Não importa ser desatento ou não, essa tradução continua sendo completamente tosca. De qualquer forma, vamos dar uma olhada na ideia original, que foi mantida na versão da scan que a traduziu:

 A Panini não apenas apagou a frase à esquerda do painel, como ainda deformou completamente a fala da Yuu. No original, o que a Yuu diz tem duplo sentido. Ela se refere ao trem que chegou na parada delas, mas também é sobre o relacionamento, que não pode mais continuar imutável. A partir do momento em que a Yuu se apaixonou, a relação delas estava fadada a mudar radicalmente. É uma fala que denota perfeitamente a confusão e tristeza que a Yuu sente por achar que o seu esperado primeiro amor pode acabar dessa forma. Novamente é outra parte que demostra o brilhantismo narrativo da Nio Nakatani. E no entanto, a Panini deformou completamente o contexto e arruinou totalmente a cena. Essa realmente me doeu ao ponto de me deixar triste por fazerem isso com meu amado YagaKimi. Baldeação, francamente...

 Ainda assim, mantenho o que eu disse acima. Se você tem condições e gosta ou tem interesse em YagaKimi, compre o material físico, por favor! É um fato que agora seria muita hipocrisia da Panini reclamar da versão da scan. Mas YagaKimi continua sendo uma obra fantástica que merece todo amor, respeito e apoio. Enquanto eu tiver esse blog, sempre vou exaltar o amor que sinto por essa obra-prima.


 Pra completar o tema de mangás com importâncias históricas, também devo comentar sobre o homem que jamais envelhece, Hirohiko Araki, e sua extravagante saga JoJo no Kimyou na Bouken.

 JoJo é aquele tipo de obra que tem um público gigante que ama, e uma outra grande parcela do público que odeia. Tanto um quanto o outro, no entanto, estão unidos pelo mesmo elemento: a estética única e original da obra. Essa estética, na verdade, é o melhor elemento a se comentar sobre JoJo. O que mais gosto em JoJo é a maneira como a obra aborda sobre masculinidade em diferentes épocas. Desde esse estilo mais voltado pra força física do começo do mangá, com personagens de posturas militares, até chegar em outras épocas, onde traços mais delicados são sinônimos de masculinidade e beleza masculina. E claro, tudo isso nesse estilo super excêntrico da franquia que, obviamente, muitos associam à homossexualidade. E o melhor de tudo, o Araki aplica isso tudo em uma obra completamente shounen. A originalidade dessa obra é tão grande que, além do grande sucesso, JoJo se tornou uma das obras mais referenciadas da história dos mangás e animes.

 Poderia citar várias capas dos mangás, no entanto, a capa que mais quero comentar, é de um mangá que não leva o nome JoJo em seu título; Rohan Kishibe wa Ugokonai. Essa capa é perfeita, além de ser protagonizada pelo meu personagem favorito da franquia. Todos as principais características da arte do Araki são ressaltadas nessa arte. O belo rosto quadrado do Rohan, poses estranhas, muitas cores e um senso estético que desafia suas definições de masculinidade. Adoro principalmente os detalhes das cores da boca e dos olhos do Rohan, que estão anômalos, como absolutamente tudo nessa arte maravilhosa. Os acessórios remetendo ao stand Heaven's Door também são incríveis. Rohan é o melhor, apenas admita.

 JoJo's Bizarre Adventure também é publicado no Brasil pela Panini. No momento em que escrevo esse texto (agosto/2022), a editora já está lançando a parte 4, Diamond is Unbreakable (Diamond wa Kudakenai), que é conhecida por ser a melhor saga da obra, segundo a fonte eu mesmo. O spin-off Rohan Kishibe wa Ugokonai, até o momento, ainda não foi anunciada pela Panini e nem por qualquer outra editora brasileira. O preço dos mangás da saga dos JoJos é bastante alto, assim como todos os mangás da Panini aqui citados. É um dos motivos pelo qual não pretendo colecionar a obra. É uma publicação muito longa, então, pra mim, seria muito caro comprar tudo. Mas, se um dia os mangás spin-off do Rohan vierem, eu certamente os comprarei.


 Nesse sentido de capas que apelam para um lado mais estético, não poderia deixar de citar Houseki no Kuni. Eu não consigo pensar em outra palavra pra essas capas que não seja aesthetic. Houseki no Kuni é uma obra que mistura diversos conceitos e ideias, desde mineralogia até religião. Muitas dessas ideias são passadas já na capa de cada volume. Cada capa ainda conta com efeitos holográficos. Pra colecionadores, sem dúvidas é o tipo de obra que dá vontade de ter.

 Depois de muitos adiamentos, a obra finalmente começou a ser publicada no Brasil, pela NewPop. A editora manteve a qualidade da edição original nas capas. O mangá veio com o título Terra das Gemas, e tem o preço médio de mangás no Brasil. Considerando a qualidade da edição, é um preço razoável.


 Franken Fran é um mangá de horror gore e comédia, escrito e desenhado por Katsuhisa Kigitsu. O autor ficou conhecido pela sua incrível habilidade de desenhar a anatomia e os órgãos humanos. O Katsuhiza tem um nível de detalhamento impressionante. Nas capas do seu mangá mais conhecido, Franken Fran, o autor quase sempre usa a sensualidade dos personagens da obra. A capa que eu quero destacar é o volume 1 de Franken Fran Frantic, continuação direta de Franken Fran. Novamente o autor usa a sensualidade da Fran, mostrando partes do corpo dela, enquanto esconde outras partes. No caso de Franken Fran, eu acho essa ideia particularmente interessante, pela dubiedade da Fran ser algo entre um monstro e uma mulher, e ser incrivelmente linda. O corpo dela é inteiramente costurado, ela tem esses parafusos gigantes na cabeça, além de outras características que a distinguem de um ser humano comum. Apesar de não ser algo tão importante, essa dicotomia entre humano e monstro é levemente citado em Franken Fran.

 Outra detalhe que gosto nessa capa são as muitas mãos que aparecem no desenho. Por ser uma obra de horror, essas mãos poderiam serem interpretadas como algo puxando o corpo da Fran para baixo. No entanto, todas as mãos são dela mesma. A Fran faz esses transplantes bizarros em si mesma, quando tem que fazer alguma cirurgia mais complicada. A capa mostra muito bem a criatividade da obra. Por isso, está entre minhas capas favoritas.

 Infelizmente, o mangá ainda não foi publicado no Brasil. Mas, por incrível que pareça, é possível adquirir a versão em inglês por um valor até que bem interessante. O problema aqui é a dificuldade de encontrar a obra em estoque.


 Por falar em nível de detalhamento, não posso esquecer da rainha dos detalhes, otaku de uniformes de maid e maluca que está sempre apertada com os prazos, a incrível Kaoru Mori. Nos extras de seus mangás, a Kaoru sempre faz piadas com a obsessão que ela tem por detalhes. Em seu atual mangá, Otoyomegatari, a arte da autora chegou em um patamar que pode bater de frente com obras como Vagabond e Berserk, que são conhecidas também pelo nível de minuciosidade de seus autores (descanse em paz, Miura-sensei). Mas a capa que quero destacar não é de Otoyomegatari, e sim o volume 5 do mangá debut da autora. Comparando todas as capas do mangá Emma, já é perceptível a progressão da arte da Kaoru. A arte do volume 5 traz uma das expressões mais belas que já vi em uma capa de mangá. A Emma ficou lindíssima nessa arte. Esse efeito meio 3D no rosto, a boca levemente aberta, a vivacidade da pele, o tecido do uniforme, o reflexo que os demais personagens projetam no chão, o cenário, absolutamente tudo. Cada detalhe dessa arte é impecável. Por isso é uma das capas que figura entre as minhas favoritas. Se eu fosse obrigado a fazer um ranking, provavelmente botaria essa em segundo lugar.

 Diferente de Otoyomegatari, as chances de Emma vir ao Brasil são realmente baixas. O mercado editorial brasileiro de mangás ainda mantém uma carência muito grande em relação a certos tipos de obras. Mesmo em inglês, além da dificuldade de encontrar a obra, o preço é inconcebível. É uma pena. A Kaoru Mori merece mais visibilidade.


 Aria tem algumas variações de capas, dependendo da edição e do país em que foi lançado. Particularmente, não acho que exista alguma que supere as capas originais, da edição japonesa. Eu gosto muito dessa ideia da Amano Kozue de criar capas com artes horizontais, ao invés de verticais, que é o padrão. O destaque fica para a capa do volume 12, onde podemos ver dois elementos muito comuns nas obras da Amano; água e garotas bonitas. As capas de Aria trazem sempre alguma das personagens em um belo cenário. Geralmente ela ressalta levemente o contorno das silhuetas das personagens, algo que a Amano faz com bastante finesse, devo acrescentar. A capa do volume 12 é protagonizada pela Akari, levantando parte do vestido de seu uniforme, em uma provável alusão ao evento chamado acqua alta.

 Sobre uma possível publicação de Aria no Brasil, eu sinceramente não lembro qual foi a última vez em que alguma editora nacional trouxe algum título semelhante. Não, eu lembro, sim: NUNCA veio ao Brasil algum mangá desse estilo. Os brasileiros amantes de iyashikei não têm muitas opções do que comprar, apenas um ou outro CGDCT que, milagrosamente, aparecem de vez em nunca. Já em inglês, agora está mais fácil encontrar a obra. Ano passado a Tokyopop reprintou Aria. Vale ressaltar que as capas da Tokyopop não são as mesmas da edição original japonesa.


 Esse é uma capa que me impressiona tanto a ponto de querer comprar o mangá antes mesmo de saber sobre o quê fala a obra. Tanto o título quanto a arte de capa do one-shot Boy Meets Maria dizem tanto sobre a obra, que a sinopse torna-se desnecessária. A imagem toda tem esse tom vivo, com muito roxo e rosa. O cenário mostra elementos que representam os protagonistas, sendo que um dos dois está rodeado de roupas e acessórios femininos. A expressão de solidão no rosto de um, e curiosidade nos olhos do outro. Mas, mesmo com essa capa fantástica, nem mesmo essa imagem ou a sinopse são capazes de expressar o quão fabuloso é esse mangá. Boy Meets Maria foi uma obra que me atraiu pela capa e me marcou com sua história (descanse em paz, Eguchi-sensei).

 O mangá foi lançado pela NewPOP após o reajuste de preços (lê-se aumento) mais recente da editora, e custa o mesmo valor arbitrário dos mangás da Panini. Mas, por se tratar de uma obra tão incrível, acho que vale o preço que tem. No entanto, acho importante ressaltar que esta é uma obra que não posso recomendar levianamente, por mais que eu a ame. Boy Meets Maria aborda alguns temas bastante pesados e tem algumas cenas muito violentas, fisicamente e psicologicamente, que certamente podem causar muito incômodo. Caso essas precauções não sejam um problema pra você, então, sim, é um mangá que merece muito ser lido.


Pra encerrar, também queria citar algumas capas de light novels, manhwas e manhuas.

 Nogi Wakaba wa Yuusha de Aru junto com Yuushashi Gaiten são as novels que, cronologicamente, dão o ponto de partida na franquia Yuusha de Aru. As duas novels narram os acontecimentos das primeiras invasões dos Vertex. Embora a novel da Washio Sumi wa Yuusha de Aru tenha sido lançada um ano antes, é em NoWaYu onde os conceitos da franquia ficam mais entendíveis.

 A capa do volume 2 da novel de NoWaYu é a que considero a mais bonita da franquia, nos mangás e novels. Com a belíssima arte do BUNBUN (conhecido por ser o ilustrador das novels de Sworld Art Online e por ter um pseudônimo que é uma piada pronta), a capa é protagonizada pela personagem título da obra, Wakaba Nogi. Essa expressão no rosto dela, demostrando poucas emoções, ficou muito legal. O ambiente meio escuro, mas ainda destacando a armadura dá um ar de sobrenatural à capa. Particularmente, eu considero a transformação Daitengu da Wakaba como uma das mais bonitas de mahou shoujo. Esse é uma capa que me faria comprar a novel, se eu já não amasse a franquia.

 É meio que impossível que as novels da franquia sejam publicadas aqui no Brasil. Até onde eu saiba, as novels nunca foram traduzidas oficialmente para nenhum idioma.


 Uma outra obra que me provou na prática que uma boa capa pode vender uma publicação, foi Watashi no Oshi wa Akuyaku Reijou., escrito pela Inori. Quando a NewPop anunciou que iria publicar essa obra, foi a capa do volume 3 que me fez ter certeza que eu iria querer ter o material físico. Na arte da capa do terceiro volume, as duas protagonistas aparecem rodeadas por duas menininhas semelhantes a elas mesmas. Aquilo deixou subentendido que a obra iria falar tanto de maternidade quanto de adoção, sendo esse segundo ponto, um assunto muito pouco abordado nos animes e mangás, ainda mais sobre adoção para casais de pessoas do mesmo gênero. Independente da temática que é levantada pela imagem, a arte do volume 3 me traz uma ótima sensação de conforto familiar e felicidade. Por isso a acho incrível

 Apesar disso, a capa da obra que acho mais linda, é a do volume 4. A Claire e a Rei fazendo magias juntas, nesse canário com tons azulados, ficou muito incrível. Também gosto muito das roupas que elas estão vestindo. Parece um visual militar (não tenho certeza se é, pois ainda não cheguei nessa parte da história), mas ainda é bastante elegante, assim como a Claire prezaria que fosse. Além disso, eu gosto muito do visual geral da Claire. Eu acho que a personagem se apropria muito bem das características de uma tsundere clássica, tanto em caracterização quanto na parte visual. Eu adoro a Claire. Ela é uma personagem excepcional.

 A novel é publicada aqui no Brasil com o título de Me Apaixonei pela Vilã!, pela NewPop. Apesar que o preço é um tanto alto. A editora já deu algumas explicações sobre os motivos da novel ser tão cara, comparada a outras publicações da editora. Bem, vale ressaltar que o preço ainda tá razoavelmente  dentro do valor médio de livros aqui no Brasil, que é de R$ 45,71, em 2022. Por ter ilustrações, acho aceitável ser um pouco mas caro que a média. Literatura no Brasil é quase um artigo de luxo. Outro problema na edição brasileira e em outros títulos da NewPOP, é a quantidade absurda de erros ortográficos na tradução. Só no primeiro volume já perdi as contas do tanto de erros que encontrei, incluindo uma parte que aparece a palavra "homossexualismo", ao invés de "homossexualidade". É o tipo de erro que jamais deveria acontecer em uma tradução e revisão profissionais. Como era de se esperar, essa má tradução do volume 1 da novel acabou causando uma certa polêmica, da qual a editora se posicionou de uma maneira bem questionável.


 Manhuas e manhwas têm estéticas bem diferentes dos mangás. É interessante ler esse tipo de obra e perceber como culturas diferentes apresentam os mesmo gêneros narrativos. Entre os manhuas que li, Here U Are continua sendo um dos meu favoritos. Ainda não li tantas obras dessas duas mídias como gostaria, portanto, vou trazer apenas uma de cada nesse post. A primeira delas, é a capa do excelente Here U Are. A imagem tem esse aspecto de sensualidade e beleza masculina, que é algo comum aos BL's. Imagino que já ficou óbvio que eu gosto de artes mais ousadas. Sensualidade, ou artes com personagens curvilíneos ou mostrando partes do corpo não é algo que precisa necessariamente ser associado à pornografia ou sexo. Não acho que qualquer capa que usei aqui seja apelativa e nem explícita.

Essa capa de Here U Are, no entanto, pode passar a impressão errada. Pelo fato do Yu Yang estar com esse cinto amarrado no pescoço, talvez alguns pensem que é uma representação de alguma forma de submissão, quando, na verdade, o que está sendo destacado na arte, são alguns traços de personalidade do personagem. O Yu Yang é um personagem que usa seu sex appeal como uma forma de proteção, também. Ele é muito irônico e engraçado. Essa pose e essa expressão que ele faz na arte da capa, dizem bastante sobre o personagem, que é incrivelmente bem escrito.

 As mídias em quadrinhos coreanas e chinesas ainda são relativamente poucas no Brasil. Até o momento, existem pouquíssimos títulos dessas obras nos catálogos das editoras nacionais, e a maioria fez muito pouco sucesso. Provavelmente ainda existem bastante receio em publicar manhuas e manhwas, mas isso pode mudar com o sucesso da publicação de Solo Leavealing e Mo Dao Zu Shi, pela NewPOP. Nem Here U Are e nem Her Tale of Shim Chong, que é a próxima obra que será citada, foram publicas no Brasil até o presente momento. É uma pena, pois são duas obras com potencial de sucesso e que deveriam serem lidas por todo tipo de público. Her Tale of Shim Chong pode ser encontrado digitalmente em inglês.


  E pra encerrar, uma capa de manhwa que, assim como a capa do volume 1 de YagaKimi, também é bastante emblemática. A primeira coisa que chama a atenção nessa capa é que a personagem na imagem não é a mesma personagem referida no título da obra. Her Shim Cheong (ou Her Tale of Shim Chong) é uma releitura de um famoso conto do folclore coreano. O conto original narra a história de uma garota pobre que se vendeu para salvar o pai, ficando assim conhecida como "a filha devota". E no entanto, a capa do volume 1 de Her Shim Cheong apresenta a figura de uma jovem dama vestindo uma linda roupa cerimonialista e ornamentos tradicionais coreanos. A arte dessa capa já mostra o quão transgressor e ousado é o manhwa de Her Shim Cheong.

 Todos os elementos da arte completa dessa capa (e contracapa) são significativos na narrativa de Shim Cheong. Desde o fato de serem duas garotas, até a diferença nas vestes delas. Os pequenos detalhes, das pulseiras iguais nos pulsos de cada uma delas, ou dos cabelos da Madame escorrendo pelos braços e pernas da Cheong, é tudo muito bom. Mas o que mais me chama a atenção é a expressão no rosto da Madame. Ela parece uma boneca de gesso de tão delicados e perfeitos que são os traços de seu rosto. E ao mesmo tempo, ela aparenta ser misteriosa, como se escondesse algum segredo por trás de toda essa beleza. Tudo isso diz muita coisa sobre a Madame, que é uma das minhas personagens favoritas, assim como essa é minha capa favorita de manhwa.


 E enfim, concluo esse texto através dessa belíssima capa de uma das melhores obras que já li. Eu gosto muito de ilustrações e de mangás, então, esse post poderia ser ainda maior. Deixei de lado muitas outras obras que têm ótimas capas, como Ane Naru Mono, Kakegurui, Koi Wa Ameagari no You ni, Monogatari, obras do CLAMP, Yotsuba To!, Blue Period, etc. Daria pra fazer parte 2, 3 4, 5, quantas fossem. A conclusão é que, apesar do mercado editorial brasileiro ainda ter muito o que melhorar, vale a pena dar suporte a vários títulos, que merecem serem mais levados em conta do que a própria editora em que são publicados. Também não vale a pena culpar apenas as editoras pelos altos preços (embora essas também não estão nem perto de serem isentas de reclamações). Com paciência e usando aplicativos e extensões, é possível monitorar quando algum mangá recebe uma boa promoção na Amazon e em outros sites. É a forma que eu utilizo pra continuar colecionando mangás sem ter que gastar excessivamente. A maioria dos meus mangás foram comprados com 30% ou mais de desconto, isso ajuda bastante.

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Texto escrito por: Edna Moda - Nada de capa!

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