A Arte de Tsurezure Biyori – Desenhos Que Transmitem Sensações

*Esse texto é unicamente sobre a arte do mangá, e não possui nenhum spoiler relevante.

 Boa parte da proposta de Tsurezure Biyori é nos apresentada já em seu título e na capa de seu primeiro volume. Uma tradução mais próxima de “Tsurezure Biyori” seria algo como, “Em Dias ensolarados”. A arte da capa mostra duas garotas; uma das duas dorme calmamente nos ombros da outra, enquanto esperam o trem. Com isso, pode se concluir que provavelmente se trate de um shoujo-ai com elementos de nichijoukei e iyashikei.

Capa do volume 1.

 Garotas com personalidades engraçadas e agradáveis interagindo entre si. Uma narrativa que segue o seu próprio ritmo, nem muito lenta e nem muito rápida. Momentos que aquecem o coração. Fazer o trivial ser algo encantador. E claro, por se tratar de um shoujo-ai, tem uma dose na medida certa de amor entre garotas.

 Não é uma proposta super inovadora, nem nada do tipo. O importante é que foi extremamente bem executada em todos os seus aspectos. As personagens são incríveis, tanto em design quanto em desenvolvimento e background. O enredo é muito engraçado. A atmosfera é envolvente. E além disso tudo, a arte é impressionante. Além de ressaltar as qualidades pré-existentes da obra, o traço e as técnicas de Kei Hamuro (autor do mangá) eleva a experiência do cotidiano a um novo nível. Com um nível de detalhamento que excede o perfeccionismo, a arte de Tsurezure Biyori é capaz de despertar sensações.

Cada lugar tem sua própria personalidade

 Assim como nenhuma pessoa é igual em essência, os lugares também não são. Personalidades diferentes criam ambientes diferentes. Em Tsurezure Biyori você pode entender a personalidade das personagens até mesmo pela maneira como elas se vestem. O mesmo vale para os lugares onde elas vivem ou onde visitam. Cada canto imprime um pouco de cada pessoa que ali vive. Some isso ao traço detalhado do Kei Hamuro e o resultado que se obterá é, cenários com personalidade. Sejam casas, quartos, estúdios, estabelecimentos, etc.








Um destaque especial para o cafe onde a Minori e a Mafuyu vão no capítulo 9:


De luz & sombra.

 Um dos efeitos da arte de Tsurezure Biyori é o de criar noções de proporções, distâncias e formas. Por exemplo, o que você faria pra fazer com que um desenho de um trem pareça estar se movimentando? Ora, é simples, faça um desenho super detalhado de um trem, depois faça com que o branco do papel pareça a luz do dia. Em seguida use o seu lápis para pintar uma sombra, mas deixe várias linhas disformes em branco para simular o efeito do sol iluminando à parte esquerda do seu trem em alta velocidade. Simples, não?



 Prestando atenção, é simples perceber as técnicas que o ilustrador usa para criar esses efeitos. A tecnologia tá cada vez mais presente nos ambientes de trabalho dos mangakás. Alguns deles usam isso com perfeição. Para fazer desenhos mais realistas, para inserir pequenos retoques e efeitos, ou simplesmente para poder fazer os personagens e os cenários separadamente e os unir, posteriormente. Kei Hamuro usa ambos, tecnologia e técnicas tradicionais de arte. Para criar sensação de profundidade e distância, ele usa padrões retos e efeitos de luz. Ele também utiliza de sombras e efeitos de luz para criar tridimensionalidade, ou simplesmente para mostrar como é a iluminação em seus cenários

Repare que o rosto da Mafuyu parece 3D, só pelo efeito da sombra.

Escuro por fora, iluminado por dentro.


Um mundo cheio de gente!

 Um sentimento quase inconsciente de que existem pessoas ao redor. Se uma obra se passa em uma escola, é natural que existam alunos pra todo lado. Se você está no centro da cidade, terá pessoas aonde quer que se olhe. Estamos tão acostumados a estarmos cercados de pessoas que às vezes nem reparamos como os mangás e animes retratam as pessoas que estão ao redor de nossos amados personagens. Quanto mais o ilustrador se dedicar para esses figurantes parecerem reais, maior será a naturalidade com que isso será passado ao leitor. É um esforço “invisível” pra criar a despercebida sensação do comum. Em Tsurezure Biyori não importa onde as personagens vão ou estão, se deveria ter pessoas naquele lugar, então assim será. Quando elas estão na escola, principalmente, é sempre abarrotado de outros alunos. E eles quase sempre estão fazendo algo que difere uns dos outros. Alguns estudando, outros conversando, alguém olhando a paisagem pela janela. Se elas estão passeando ou esperando o trem, existem pessoas indo e voltando de todo tipo de lugar.



Arte imaginativa.

 Em meio a tantos desenhos que tentam tornar o cotidiano em algo maravilhoso, o capítulo 15 se destaca pela sua arte inventiva. Nele vemos Haru tendo um sonho. Toda a narrativa tem um tom melancólico, com uso de nonsense e até mesmo, de suspense. O design da Haru fica oscilando entre uma versão mais realista e uma versão mais chibi. O capítulo inteiro tem um tom imaginativo.



E o quê mais?

 É isso, ótimos personagens, uma história cativante com uma excelente atmosfera, e claro, essa arte super linda. Infelizmente, por motivos não totalmente explicados, Kei Hamuro decidiu encerrar a série antes dela se concluir. Sabe-se que o mangá vendia bem e era aclamado pela crítica. Bem, se ele decidiu encerrar, deve ter tido seus motivos. Então, Tsurezure Biyori é uma obra com final aberto. E isso é um motivo para não ler? Eu não acho! É uma obra que tinha tudo pra ser um dos melhores shoujo-ai já feitos, mas que infelizmente foi encerrada antes do tempo. A obra é curtinha, tendo apenas 18 capítulos. Alguma scan já traduziu para português, e pode ser encontrado no site da Ichirin no Hana Yuri. Duvido muito que alguma editora brasileira venha a publicar esse mangá. Então não tem tanto problema ler via scanlator. Se um dia a obra vier ao Brasil, por favor, apoie o material original sempre que possível.
 Respondendo a pergunta do título desse parágrafo, o que a arte desse mangá ainda tem à mais, são belíssimos cenários, e comidas tão realistas que dão fome no leitor.





Texto escrito por: Maviael Nascimento, aquele que se empolga e envia muitos prints.

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