A Melhor Cena de One Piece


 



 De repente, Vivi está gritando desesperadamente da torre do relógio. "PAREM DE LUTAR". Sua voz é suprimida pelos sons da guerra que está sendo travada por toda Alabasta. "PAREM DE LUTAR". Vivi continua gritando, mesmo depois de perceber que Luffy derrotou o Crocodile. "PAREM COM ESSA GUERRA SEM SENTIDO". Com a chegada de uma chuva inesperada, a voz de Vivi começa a alcançar às pessoas. "O PESADELO... ACABOU". Em toda a história de Alabasta, grito maior nunca se ouviu.


 Esse post, no entanto, é sobre a cena que traz à caracterização perfeita para Vivi, e que faz a cena narrada acima e muitos outros momentos serem marcantes. Mas antes disso, embarque comigo nessa jornada para tentar entender a ideologia da Vivi Nefertari e descobrir o contexto que pode transformar um pequeno momento em algo inesquecível.



 Entre todas as sagas de One Piece, Alabasta é provavelmente a que traz mais discussões sobre diferentes formas de regência. Essas discussões se concentram no Crocodile, no Wapol, no Dalton e, principalmente, na Vivi. Enquanto One Piece é, sim, um anime em que lutas e poderes são importantes partes do enredo, sagas como Alabasta mostram que existem outros tipos de lutas e de poderes que não se resumem a brandir uma espada ou ter o corpo feito de borracha.


 Por exemplo, nessa cena temos uma situação em que usar força bruta iria trazer graves consequências. Então, a Vivi, que é alguém que sempre demostra partes de seus ideais políticos e humanos nas mais diversas situações, dessa vez está curvada de joelhos, enquanto o seu ferimento por bala faz sangue jorrar de sua barriga. Ela faz isso logo após o Luffy ameaçar atacar a Força Militar de Drum, que acabou de disparar tiros de aviso. Por causa da atitude dela, até mesmo o Luffy pode entender que lutar não é a resposta para salvar a vida da Nami, que precisa de tratamento médico urgentemente. Quando a vida de outras pessoas dependem do que você faz, mesmo alguém fisicamente muito poderoso como o Luffy pode se tornar incapaz. Essa é a diferença entre os tipos de poderes que eles possuem. Uma forma muito inteligente que o Eiichiro Oda (autor do mangá) encontrou pra falar sobre formas de liderança sob diferentes perspectivas.


 Muitos capítulos se passaram desde que os ideais da Vivi fizeram o Luffy perceber que nem tudo pode ser resolvido através da força, e então, agora temos uma situação oposta, onde é o Luffy que entende que nem tudo que a Vivi faz está correto. O Bando do Chapéu de Palha e a Vivi estão finalmente próximos à capital de Alabasta para lutar contra o Crocodile, mas, ao invés disso, Vivi decide que vai parar o movimento rebelde. É quando o Luffy decide, repentinamente, que não irá mais seguir com os planos da Vivi. Depois de ela ter aberto os olhos do Luffy em Drum, chegou a hora do contrário também acontecer. Apenas por ter observado o comportamento da Vivi, o Luffy sabe que ela tomou essa decisão porque ela não quer que ninguém morra. Mas ao fazer isso, nada irá realmente mudar. O Crocodile não será impedido e outras pessoas irão morrer, independente do que se faça. Vivi tomou essa decisão com o intuito de querer ajudar quem ela acha que precisa salvar no momento, no entanto, futuramente, isso faria ainda mais vidas ficarem em risco. Ela almejar conseguir que ninguém morra em uma guerra envolvendo um Shichibukai e mais de um milhão de pessoas é simplesmente impensável. Se ela tentar proteger todo mundo ao mesmo tempo, o máximo que ela conseguirá é sacrificar a si mesma e não salvar ninguém. Então o Luffy fez exatamente o que ela fez antes pra salvar uma amiga, mas dessa vez, pra salvar a própria Vivi.


 O momento em que Vivi decidiu parar o movimento rebelde ao invés de ir atrás do Crocodile, todos os Mugiwaras perceberam que isso não era a escolha certa. O Luffy, enquanto capitão do bando, foi o único que decidiu não ser conivente. Mostrar diversos panoramas sobre uma mesma questão é um dos pontos mais fortes da narrativa da saga de Alabasta. A ideologia da Vivi é tão bem trabalhada que pode ir de encontro até mesmo com os ideais de seus aliados, ao ponto de brigar fisicamente contra o Luffy. Mesmo com toda essa ideologia de paz, pessoas morrem pela Vivi só por ela ser quem é. Aceitar que dessa vez lutar é a resposta e que pessoas irão morrer, é a única coisa que pode salvar o país que ela tanto ama. Foi isso que o Luffy mostrou pra Vivi enquanto eles brigavam. Pensando nessa cena como o desenvolvimento do momento em que a Vivi faz o Luffy se ajoelhar implorando para que tragam um médico pra cuidar da Nami, então aqui o Luffy também mostrou uma forma de exercer liderança que mesmo a Vivi não entendia bem.


 Através de flashbacks e uma longa e bem escrita caracterização, podemos perceber que essa é uma característica enraizada na Vivi. Ela verdadeiramente não consegue aceitar que pessoas se ponham em risco por ela, ao mesmo tempo em que ela arriscaria facilmente a própria vida, caso isso pudesse salvar a vida de alguém. A Vivi é uma personagem tão perfeita porque todo o seu caráter foi bem desenvolvido. Sejam suas qualidades, seus defeitos, ou até mesmo seus traços de personalidade que são conflitantes entre si.


 Portanto, até mesmo a Vivi estava ciente que sua escolha não era a ideal, e esse era apenas um contraponto que ela não queria admitir. Voltando novamente aos capítulos do arco de Drum, é perceptível que Vivi abomina um monarca que foge pra salvar a própria vida enquanto deixa o país abandonado. Essa é a principal diferença do que significa governar para a Vivi e para o Wapol. Para ele uma nação é o seu rei, enquanto para Vivi uma nação é o seu povo. E ela achar que poderia salvar todo mundo era uma forma de negar a realidade futura. Não aceitar que cidadãos inocentes do seu país iriam morrer, era, também, de certa maneira, uma fuga.


 Por isso, o verdadeiro oposto da Vivi é o Crocodile, que é alguém que a odiaria por ela ter tentado negar a realidade, ao invés de enfrentar. Os dois, Vivi e Crocodile, também compartilham de ideias completamente contrastantes sobre regência política. Crocodile tenta estabelecer uma nação unificada, uma utopia onde todos compartilham dos mesmos ideais dele. Para isso, ele se utiliza de manipulação de opiniões e eliminação de quem não estiver de acordo com suas regras. A Vivi acredita em uma nação livre, onde todas as pessoas partilhem do direito de serem diferentes cultural e humanamente. Em certos momentos da saga de Alabasta, fica claro que a Vivi não se importa de correr risco de vida se isso for salvar alguém. Enquanto a caracterização do Crocodile deixa claro que, pra ele, matar alguém que não compartilha de sua utopia, seja aliado ou inimigo, não significa absolutamente nada.


 Todo esse contraste, entre uma pacifista e um déspota, gera um ódio mortal mais por parte da Vivi que do Crocodile. A ideia que ela tem de salvar, não significa nada pra ele. A facilidade que ele tem de matar, afeta diretamente tudo que a Vivi cultiva dentro de si desde sua infância. A existência desse homem é uma afronta direta a tudo em que a Vivi acredita. Em outras sagas posteriores, o Crocodile apresenta algumas atitudes mais humanas. Na contramão disso, mesmo a Vivi é capaz de demostrar ódio, medo e ter atitudes que vão contra o que se esperaria de uma monarca como ela. A obra nunca citou nada, mas provavelmente ela fez alguns serviços bastante sujos para a Baroque Works. One Piece tem uma construção de mundo muito rica que, embora tenha muitas diferenças, é claramente pautado no mundo real. Nação, estado, país, governo, justiça, monarquia, sociedade, cultura, etc. Todos esses conceitos já têm suas definições ideológicas ou geográficas bem estruturadas, mas tanto em One Piece quanto na vida real, tudo muda, para o bem ou para o mal, quando se estabelece a ideologia individual de cada pessoa, advinda de suas vivências e pensamentos. É assim que nasce a injustiça, e também a insatisfação que nos leva a querer mudanças. Portanto, mesmo a Vivi é uma pessoa com falhas. Isso é a construção humana de One Piece.


 Antes de falar da cena referida no título do post, vamos conversar sobre o desfecho da saga de Alabasta, a cena pela qual você possivelmente veio parar nesse post:


 Depois que tudo já está acabado, Crocodile já está preso e destituído, Alabasta está se reconstruindo, depois de tudo isso, a Vivi se tornou uma amiga que todos amam. Ela é parte da tripulação do Bando do Chapéu de Palha. Por mais que fosse muito legal poder continuar acompanhando a Vivi, o fechamento do arco de personagem fica perfeito com ela não partindo com o bando pelo motivo que resume toda a motivação e caracterização da Vivi; o amor que ela sente pelo seu país, Alabasta. Tudo que ela fez, tudo que ela passou, foi pelo amor que ela sente por esse país. Isso conclui perfeitamente toda a saga de Alabasta e todo o extenso desenvolvimento de personagem da Vivi. Desde que foi revelado que a Miss Wednesday era, na verdade, a princesa de Alabasta, a ideologia política da Vivi foi sendo minuciosamente bem trabalhada ao longo de vários capítulos. Mesmo após se tornar parte do Bando do Chapéu de Palha, ao fim de tudo, Vivi é mesmo a princesa de Alabasta. Toda a narrativa dela foi criada para esse propósito. Mesmo que ela não seja uma pessoa perfeita, Vivi tem um potencial imenso pra fazer a diferença no mundo de One Piece. Uma personagem que jamais será esquecida.


 Sinto muito por demorar tanto pra realmente dizer qual é a cena do título! Então, sem mais delongas, vamos enfim começar esse post.

Animelancolia apresenta:

A Melhor Cena de One Piece





 Enquanto ainda era o líder da Guarda Armada do Reino de Drum, Dalton já questionava a forma com que Wapol rege o país. Então ele relembra de uma jovem criança que conheceu quando escoltava o Wapol durante um Reverie. Pelo fato do Reverie ser uma reunião de líderes mundiais, qualquer atitude hostil pode gerar guerras entre nações. Sabendo disso e por estar com raiva do rei de Alabasta por o ter repreendido, Wapol resolve tirar proveito da ocasião e bater propositalmente na princesa de Alabasta, de 10 anos de idade, Vivi Nefertari. O intuito dele, obviamente, era que ela ou sua guarda reagisse à agressão e aos insultos sobre o pai dela. A Vivi é apenas uma princesa que está como acompanhante do pai, enquanto Wapol é o rei legítimo e monarca absoluto de uma nação. Qualquer coisa que ela fizesse ou dissesse, iria parecer uma criança mimada fazendo birra, e isso poderia facilmente desencadear o que na vida real é chamado de incidente internacional. Então a pequena menina, que após ter levado um forte tapa, apenas sorri, diz que está tudo bem e pede desculpas por ter esbarrado em Wapol. Ao ficar sem reação diante dessa atitude inesperada, o rei tirano simplesmente vai embora irritado. Antes de ir acompanhar o seu senhor, Dalton vê a pequena princesa chorando escondida por causa da dor. Isso gerou um forte sentimento de admiração, além de conflitos internos, dentro dele.

 Além de ser uma cena simples e que não foi feita pra causar impacto, e sim pra contextualizar a atual situação de Drum, essa cena é também um flashback dentro de outro flashback. E One Piece é aquele tipo de obra que tem muitas cenas amadas pelos fãs, que foram escritas para causarem efeitos mais impactantes; seja pela arte no mangá, ou pela produção, sonorização e dublagem no anime, ou pelo impacto geral que causa na trama. Existem várias cenas na obra que qualquer fã conseguiria identificar apenas de ouvir as músicas e as vozes originais, sem qualquer legenda ou imagem. E ainda assim, essas duas páginas contando esse breve acontecimento do passado da Vivi, sempre me deixam impressionado pela força do contexto. Mesmo sendo apenas uma criança, ela consegue demostrar tamanha bravura. Foi um ato de diplomacia que exigiu toda à resistência dela. Apenas com esse pequeno gesto de ter a força pra não chorar mesmo depois de ter sido ofendida e machucada, de ter tido a humildade de se desculpar pra não piorar a situação, ela deve ter evitado muitos conflitos desnecessários. Aos seus 10 anos de idade, Vivi já entendia sobre o peso da responsabilidade que carrega por ser uma princesa. One Piece fala bastante sobre política, na maioria das vezes sem ditar o que é certo e o que é errado. A própria Vivi nem sempre tem certeza se está fazendo o que é certo. Ela sabe, no entanto, que muitas vidas dependem dela.

 O momento em que essa cena é colocada também é muito bem pensado. Nesse ponto a Vivi já era uma personagem muito bem escrita. Eu já sentia um carinho imenso por ela, mas dessa cena em diante, ela foi se tornando minha personagem favorita de toda a obra, até hoje. Essa curta cena leva a um entendimento muito maior de coisas que ela já fez, além de gerar muita empatia com as situações que a Vivi passará posteriormente. Perto do fim da trama, quando Vivi está gritando desesperadamente da torre do relógio para as pessoas pararem de lutar, você entende a dor que ela sente por vidas estarem sendo perdidas sem motivos. Quando ela está ajoelhada perante a Força Militar de Drum, é porque ela sabe que as vidas que dependem dela são mais importantes que seu orgulho como princesa. Se ela nega à resignação de que vidas inocentes serão tiradas, é porque ela sempre priorizou a vida das pessoas de seu país acima de qualquer coisa. A revolta que ela sente quando descobre que o Wapol abandonou Drum para salvar apenas a si mesmo, é causada pelos seus ideais que a acompanham ao longo da vida. O ódio mortal que ela sente pelo Crocodile, é por ele representar o que ela mais detesta. E por sempre ter sido essa pessoa é que a Vivi se tornou uma Mugiwara que deixou tantas saudades nesse bando pirata. Em todas esses momentos, em todos esses fatos, a cena da pequena Vivi resistindo à dor sempre estará presente. Seja caracterizando, justificando ou gerando mais empatia, essa cena é um ponto muito forte da narrativa da Vivi. Por isso que, desde a primeira vez que vi a cena no anime, mesmo ela sendo muito rápida, causou muito impacto em mim. É impressionante poder ver temas políticos sendo inseridos dentro de uma história dessa forma. Portanto, essa é minha cena favorita, da minha personagem favorita e da minha saga favorita de One Piece.

 Talvez você que está lendo este texto não concorde que essa é a melhor cena da obra. Tudo bem, minha intenção nunca foi realmente dizer o que é melhor e o que não é. O título do post era apenas uma desculpa pra escrever sobre parte da impecável caracterização da Vivi. O que realmente me impressiona nessa cena é o tanto de contexto que existe nela. E tudo isso que foi dito é quase unicamente sobre a caracterização da ideologia política da Vivi, que, por sua vez, é apenas uma parte da personagem. Ainda daria pra escrever muita coisa sobre a Vivi. Bem, se algum dia eu me sentir confiante o suficiente, talvez tente fazer um post comentando toda a saga de Alabasta. Certamente seria um texto bem grande, pois tem muitos elementos interessantes pra se comentar dessa saga. Enfim, caso isso aconteça, se nos encontrarmos novamente, espero que você possa me chamar de amigo.



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Texto Escrito por: Maviael Nascimento, ko wo agette!

Imagens de capa: bodskih

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