Todo o Desenvolvimento Narrativo de 5-toubun no Hanayome ∬ (com spoiler do anime)


"Essa obra quebra alguns dos piores clichês do gênero harém, e isso é muito bom. O erro foi fazer uma temporada one cour. Isso poderia ter ido bem mais além se tivesse tido o tempo certo." - Escrevi isso sobre a primeira temporada de 5-toubun no Hanayome em um site database de animes.

"Não consigo gostar do estereotipo tsundere." - Frase que comecei a dizer muito vezes desde que assisti Toradora.

"Não tenho nada contra o gênero harém. Também não tenho nada a favor, no entanto. Acontece que esse gênero raramente aborda algo que eu tenha interesse. E mesmo em questões de romance, harém raramente me agrada." - Algo que eu disse durante uma conversa pelo Discord.

"A Nino é uma personagem que eu não me importava na primeira temporada." - Um pequeno trecho do post sobre o arco Sete Despedidas desse blog.

...

 Tantas frases ditas por ai. Tantas conclusões tiradas à partir de muitas experiências diferentes com animes harém. E então, vem a segunda temporada de 5-toubun no Hanayome e me fez rever tudo que eu pensava sobre a obra. Imagino que os leitores do mangá já sabiam que a segunda temporada mudaria muitas opiniões. Deve até ser bem engraçado ver tantas pessoas que antes subestimavam a obra, agora ficarem surpresas com tantas mudanças nos personagens e nos elementos da história. Ainda assim, fico realmente feliz de não ter lido o mangá até o presente momento. Foi uma ótima experiência esperar esse tempo todo, e ainda ir com a mesma expectativa da primeira temporada, pra enfim ser surpreendido com uma narrativa muito mais bem trabalhada e que aborda questões muito além do romance. Depois de tudo que a Nino fez nessa temporada, eu simplesmente não posso mais dizer que não gosto de tsunderes. Ainda continuo não gostando da maioria que vi anteriormente, mas, a Nino com certeza vai muito além desse estereótipo.


  Desenvolvimento x Caracterização


 O ritmo e a história que está sendo contada, não tiveram muitas mudanças em relação à primeira temporada. Claro que a história avançou muito e está definitivamente mais interessante. Mas não ao ponto de parecer ser algo completamente diferente. O que mudou, e mudou muito mesmo, foram os personagens. Eles se mantêm em seus estereótipos, cumprindo o esperado de suas narrativas. No entanto, todos os seis protagonistas ganharam muito desenvolvimento e, acima de tudo, muita caracterização. Nenhum deles é mais o tipo de personagem que você pode prever as próximas atitudes. Isso deixa a narrativa muito mais dinâmica. E talvez no centro disso, está o epiteto da caracterização em 2021, Nino Nakano. Pra ser sincero, acho que desde Clannad: After Story que eu não ficava tão impressionado com uma quantidade tão significativa de desenvolvimento em um curto período de tempo. A Nino foi tão incrível durante o arco "Sete Despedidas" e posteriormente que, ascendeu em mim uma vontade incontrolável de escrever sobre ela. O post que escrevi foi sobre o arco Sete Despedidas, mas a verdade é que ignorei dois dos três principais elementos do arco, apenas para dar prioridade em falar sobre o desenvolvimento da Nino.

 Quando eu digo que os personagens se mantêm em seus estereótipos, isso não é algo que dê pra taxar como um defeito da obra. O que acontece é que, eles estão perfeitamente caracterizados dentro dos próprios arquétipos. Todos estão sendo tão bem desenvolvidos que, já não faz mais tanta diferença os gostos pessoais, para mim. Por exemplo, eu realmente gosto muito de personagens kuuderes. Eu sou tímido, então me sinto automaticamente identificado. E também, personagens tímidos tendem a ser sutilmente bem desenvolvidos. E mesmo com isso tudo, não escolheria qual a minha personagem favorita em 5-toubun apenas baseando-me em minha preferência por kuuderes. Claramente estou me referindo à Miku. Ela que provavelmente era, até então, a personagem mais bem desenvolvida da obra. E mesmo com todo o desenvolvimento da Miku, com todo o carisma dela, com toda a força da personagem... eu não ousaria mais afirmar que ela é a melhor personagem da obra. Ela continua sendo a mesma Miku incrível, mas, a segunda temporada desenvolveu as outras personagens bem o suficiente para competirem perfeitamente com ela. E também, não adianta tentar escolher, porque essa segunda temporada mostrou que conclusões podem ser facilmente mudadas. Quando uma narrativa é realmente boa, e os personagens são bem desenvolvidos, esse tipo de indecisão vira uma coisa maravilhosa.

   Ichika Has Broken


 Inadvertidamente, Ichika começou a tomar atitudes no mínimo questionáveis. Isso fez ela ser, provavelmente a personagem menos popular entre as quíntuplas, e com certeza a mais odiada. Bem, não serei eu quem irá defender a índole das atitudes dela. Posso defender, no entanto, que isso não a fez ser uma personagem ruim. Indo na contramão disso, eu diria que isso a faz ser uma personagem mais verossímil do que ela era antes. Em uma hipotética situação de harém na vida real, onde cinco garotas próximas estão apaixonadas pelo mesmo garoto, me parece muito factual que acontecesse trapaça de alguma das partes envolvidas. A Ichika quer ficar com o Fuutarou. As pessoas que podem impedir que eles fiquem juntos, são justamente suas irmãs. Me perdoem pela palavra, mas essa é uma situação de merda. Todo romance harém seria algo estranho assim, se fosse na vida real. Ichika sucumbiu ao desespero por encontrar a própria felicidade. Para isso, ela foi egoísta, trapaceou e mentiu. Por que ela foi fraca, simples assim. O fato dela ter feito algo ruim, não faz dela um personagem ruim.

 Não surpreendentemente, o processo pra ela chegar nessa tipo de pensamento, foi mostrado em tela, sim. Começou quando a Miku declarou que iria confessar seus sentimentos depois de se esforçar mais que qualquer uma e, assim tirar as melhores notas. De certa forma, foi um desafio. Um em que a Ichika só precisaria se esforçar ainda mais que a Miku pra alcançar a vitória. E foi o que ela fez. É importante notar que, já nesse ponto, nenhuma estava pensando nos sentimentos da outra. Logo após, Ichika descobre sobre os sentimentos da Nino e ouve da mesma que, se fosse preciso, ela "chutaria" qualquer uma que estivesse em seu caminho. Enquanto conversava com a Yotsuba, pouco tempo depois, Ichika chegou à conclusão que teria que ser egoísta. Até então, ela estava ajudando todas as irmãs. Em algum momento, em seu desespero e fraqueza, Ichika contou uma mentira da qual não poderia voltar atrás. Isso ocasionou uma teia de novas mentiras até culminar em uma situação muito constrangedora para a Miku. Algo que, embora não tenha feito de propósito, foi culpa da Ichika.

 Isso não significa, no entanto, que ela desconhece a maldade dos próprios atos. Desde o início ela sabia que estava sendo covarde e se sentia mal por estar fazendo isso. A própria Ichika reconheceu isso desde a primeira mentira. Quando aconteceu aquilo com a Miku, foram as palavras da Nino que fizeram com que Ichika se arrependesse definitivamente do que fez. Com essa conclusão, ela corrigiu o máximo possível do mal que causou. Foi uma grande quantidade de desenvolvimento de personagem. Mesmo que não tenha sido mostrado cada etapa do pensamento dela, cada atitude foi narrativamente mostrada. Se é perdoável ou não, se ela merece ser odiada ou não, isso vai de acordo com o entendimento de cada pessoa. Particularmente, eu acho que a Ichika se desenvolveu incrivelmente bem durante o arco "Sisters War". O fato dela ter errado tanto e se arrependido, pode não dar-lhe nenhum ponto de carisma, mas, definitivamente a torna mais humana. Até mesmo a forma como cada uma das irmãs perdoou a Ichika, também foi bem trabalhado (além de ter gerado cenas incríveis). Por isso, a Ichika onee-san, ou a Ichika fraca, ambas fazem parte do que quero mais elogiar nessa segunda temporada: o desenvolvimento dos personagens.

  Um Trem Chamado Nino


  Acredito que, até mesmo a maioria das pessoas que já amavam a Nino desde o início, também ficaram surpresos com todo o desenvolvimento que a personagem teve à partir do arco "Sete Despedidas". Eu amei tanto esse arco, que acabei escrevendo um texto só pra ele (link no final do post). Entre todas as qualidades do arco, o que realmente mais me fez querer escrever, foi a caracterização da Nino nesse ponto da trama. A parte psicológica dela foi muito bem trabalhada. Era uma questão adolescente, de fato. Mas não deve ser tratado como algo menos importante. E foi o que a obra fez. Tratou com delicadeza. Resolveu com delicadeza. Depois de ganhar tanto desenvolvimento e apresentar tantas características novas, a Nino simplesmente não parou mais de surpreender. Começou a quebrar diversos comportamentos padrões do "dogma" tsundere. A garota virou uma metralhadora de sinceridade. Um verdadeiro trem que perdeu o freio.

 O arquétipo tsundere sempre foi um pouco complicado, para mim. Em boa parte das vezes são personagens agressivas e que escondem os próprios sentimentos de uma forma muito estranha. Imagino que as pessoas que gostam, seja justamente por causa dessa dualidade entre passivo e agressivo. Nunca senti muita verossimilhança nesse estereótipo, então esse meu desgosto talvez seja por um motivo racional assim. Mas, então veio a Nino e me quebrou por inteiro. Ela modificou cada um dos clichês que eu menos gosto em personagens tsunderes. Sendo incrivelmente sincera consigo mesma. Se declarando antes das outras. Sendo a mais atenciosa com todas as pessoas ao redor. Demostrando carinho, ao invés de insultar. A agressividade típica do "tsunderismo", a Nino converteu em valentia. Se revelou uma personagem muito fofa e agradável. E mesmo depois de quebrar tantos padrões do arquétipo e de animes harém, a Nino continua tendo toda a classe típica de uma tsundere de anime harém. A diferença é que agora ela está muito mais real e carismática. Independente de gostar ou não de tsunderes, é simplesmente impossível não amar a Nino.

 Todo esse desenvolvimento da Nino, me fez lembrar de outra personagem: a Ushio Okazaki, de Clannad: After Story. Desde a primeira cena em que a Ushio aparece, cada ação dela traz consigo uma nova característica para o personagem. De alguma forma, é possível sentir que tudo que ela faz e diz, é importante para o entendimento da mesma. A diferença entre ela e a Nino, é que a Ushio é uma criança. Então é simplesmente natural que tudo que aconteça com a Ushio faça ela se desenvolver. A Nino, mesmo não sendo uma criança, também compartilha dessa qualidade. Foi incrível a quantidade de novas características que foram narrativamente mostradas sobre a Nino. Não apenas sobre a personalidade, mas também sobre a psique dela. Coisas que até a própria Nino está descobrindo sobre si mesma. Acompanhar esses doze episódios da segunda temporada foi como montar um quebra-cabeça da verdadeira personalidade da Nino. Uma personalidade encantadora. A prova do quanto eu gosto da Nino, foi a comparar com a Ushio, que é minha segunda personagem favorita da vida.

  The Miku Who Leapt Through Time


 Eu gosto, principalmente, de como o desenvolvimento da Miku reflete visualmente no carisma da personagem. Cada episódio novo era uma verdadeira coletânea de expressões inéditas dela. Apesar de isso parecer conceder apenas carisma para Miku, existe, na verdade, uma sutil evolução nessas expressões. Miku era uma garota tímida na primeira temporada, e isso definitivamente não mudou nessa continuação. A evolução dela não consiste em deixar de ser tímida, e sim em não ficar pra trás, apesar da timidez. Miku continua expressando a timidez com todas as partes do seu corpo. Na maneira como ela se encolhe quando fica envergonhada. Com sua grande franja que evita contato visual. E até mesmo em seu estiloso headphone. No entanto, Miku está cada vez mais determinada em seus próprios objetivos. Ela permanece com a tendência de manter a cabeça baixa. Mas, se comparado com a primeira temporada, dá pra notar que o olhar dela agora tá sempre pra frente. Ela desvia o olhar menos que antes. Ela toma atitudes mais assertivas. O rosto dela fica cada vez mais expressivo de acordo com o que ela estiver sentindo no momento. Mesmo Miku sendo a mais tímida e a que aparenta ter menos confiança em si mesma, ela é a que melhor demostra o sentimento de estar amando. Até mesmo o Fuutarou já tinha percebido que ela estava apaixonada.

 Se a Nino eu comparei com Ushio, a Miku eu compararia com Akane Tsunemori, do anime Psycho-Pass. A Akane é uma personagem que você pode entender o quanto ela se desenvolveu apenas em olhar para o seu rosto. Na primeira temporada ela parece ser uma garota realmente pequena. Seus olhos são caídos e tristes. Já no filme, ela se tornou uma mulher incrivelmente forte. O olhar dela agora é afiado e marcante. Até mesmo a postura corporal dela se tornou imponente. Continua sendo uma pessoa de baixa estatura, mas na tela ela parece ser uma mulher gigante, devido seu espírito forte. Miku também está se tornando uma menina cada vez mais forte. É muito prazeroso ver ela se esforçando tanto pra conseguir o que quer. Mesmo que ela tenha pouca autoconfiança, Miku está seguindo em frente apenas com a força de seus sentimentos. Estar apaixonada, por mais difícil que seja para ela, é algo que a faz amadurecer. Só isso já valida a obra enquanto narrativa de romance. Esse é o tipo de coisa que mais gosto de ver em obras desse gênero. É quando o romance faz com que os personagens se desenvolvam, e não o revés disso.

 Miku protagonizou muitas das cenas mais marcantes da temporada. Entre elas, a que mais merece destaque é a cena em que ela se declara. Além da construção narrativa ter sido perfeita, a cena ainda marca todo o desenvolvimento da Miku. Ao mesmo tempo em que dizia a palavra "suki", mais uma expressão inédita aparecia no rosto da Miku. Uma que consolida toda a sua decisão. Um rosto forte e determinado. O corpo da Miku, que geralmente é um pouco encurvado, dessa vez estava completamente ereto. Miku estava incrivelmente linda. O visual da cena mostra muito bem o quanto ela cresceu. Todo o desenvolvimento, todas as coisas que ela passou, toda determinação que ela adquiriu, tudo foi expressado nessa cena. Esse tipo de desenvolvimento para um personagem tímido, é muito gratificante de se acompanhar. Não faço ideia pra onde essa determinação da Miku vai a levar, mas, definitivamente eu quero assistir.

  Yotsuba to!


 Yotsuba claramente teve menos tempo de tela que as outras quíntuplas. No arco "Sete Despedidas", ela teve uma participação incrivelmente passiva, mesmo sendo o centro de uma das três partes principais do arco. Se as irmãs não tivessem intervindo, possivelmente o problema dela não teria sido resolvido. Inicialmente não gostei da participação dela nesse arco. Pouco tempo depois, finalmente percebi que existiam muitas circunstâncias que explicam essa apatia da personagem. Por trás de um comportamento animado e infantil, Yotsuba esconde diversos segredos. Ela carrega muita culpa por ter feito todas as irmãs se transferirem de escola. É como se ela estivesse acorrentada a esse fato. Aparentemente isso fez ela desenvolver uma personalidade em que ela sempre se sente inferior. Esse papel de dar suporte para as irmãs talvez não seja altruísmo, e sim apenas um tipo de auto sacrifício por causa da culpa e, ou gratidão. É incrível que a personagem que aparenta ser a mais simples, seja na verdade, a que esconde problemas bem mais profundos.

 É quase certo que, na sequência da história, Yotsuba ainda vá mostrar que esconde muito mais coisas. Deve ter coisas mais tristes escondidas por trás das demais características da personalidade dela. Como o fato dela ser a melhor nos esportes. Talvez até mesmo, para o fato dela ter sido a primeira que mudou a aparência (lembrando que não li o mangá e nem a Wiki). Foi surpreendente descobrir que ela sabia que era a garota da lembrança do Fuutarou. Supondo que nesse ponto ela já esteja apaixonada, significa que ela continua se limitando e não pensando em si mesma. O quão baixa é a autoestima dessa garota? Isso explicaria até mesmo porque ela não diz "não" para as pessoas. Não imaginei que essa apatia pudesse ser por motivos psicologicamente tão tristes. Ao que tudo indica, a participação da Yotsuba na história vai aumentar significativamente. Estou ansioso para ver isso, também.

  Itsuki ga Kirei


 Esse é um anime harém, portanto, em algum momento Itsuki estará claramente apaixonada. Eu preferiria que isso não acontecesse, no entanto. Pois acho que a Itsuki é a que melhor desempenha o papel de suporte. Não no sentido de ser menos importante para a obra, e sim sobre ser muito legal ela ser amiga do Fuutarou e ser uma pessoa tão benevolente com todas. O relacionamento que ela tinha com a mãe me parece que virá a ser muito mais interessante do que qualquer desenvolvimento romântico que ela possa ter. Ela é a pessoa que mais sentiu pela morte da mãe dela. Isso está diretamente ligado ao desenvolvimento da Itsuki. Até agora ela já demostrou muitas vezes esse lado mais materno. Algo como querer seguir os passos da mãe, talvez.

 Itsuki é realmente uma pessoa diligente. E como tal, o desenvolvimento de personagem dela é mais parecido com o desenvolvimento do Fuutarou, entre todos os personagens. Não acho que ela vá ganhar muitas novas características em um curto espaço de tempo, assim como aconteceu com a Nino. Ou se desenvolver muito depois de decidir o que fazer com seus sentimentos, como foi com a Miku. Também não acho que ela vá se tornar alguém melhor depois de cometer algum erro, como aconteceu com a Ichika. Possivelmente Itsuki ainda está escondendo algum segredo, mas não deve ser nada tão forte como parece ser com a Yotsuba. O desenvolvimento da Itsuki vem seguindo seu próprio ritmo, e provavelmente continuará sendo assim. Imagino que muitos diriam que ela é a que menos tem desenvolvimento de personagem. Eu não concordo com isso. Depois de aceitar o Fuutarou, ela vem sendo cada vez mais uma pessoa diferente. Um exemplo disso é que ela não tem mais nenhum trejeito de tsundere. As mudanças no personagens dela são bem mais sutis. São pequenas coisas que a personagem passou a fazer em virtude de sua própria experiência com os acontecimentos da trama. É um tipo de desenvolvimento mais realista, mais sutil e com um ritmo menos constante. Cada uma delas se desenvolver ao próprio ritmo é uma das muitas qualidades da obra. Elas não são a mesma pessoa, não pensam as mesmas coisas e nem passam pelas mesmas experiências. É simplesmente natural que elas evoluam de maneiras distintas. 

 Talvez por ainda não ser algo romântico, as interações da Itsuki com o Fuutarou são as que mais gosto. Eu acho que eles dois formam um ótimo par de amigos. Talvez por terem desenvolvimentos semelhantes. Independente do que seja o que ela sinta, também é um sentimento bom para a Itsuki. Faz ela mudar aos poucos. O relacionamento dela com as irmãs também é muito saudável. Esse é um grande mérito da narrativa. Desenvolver bem os relacionamentos fraternais enquanto desenvolve o romance, simultaneamente. Todas elas serem protetoras umas com as outras é bom de se ver. Mesmo que o amor dela faça essas interações eventualmente mudarem, não tem  problema. Me parece pouco provável que Itsuki deixe de ser uma personagem tão carismática e gostável.

  Cartas para Fuutarou


 O personagem central de animes harém geralmente é, pra mim, o ponto mais fraco desse tipo de narrativa. O que me incomoda não é a falta de personalidade comumente nesse tipo de personagem. O verdadeiro problema é que, na maioria das vezes, não tem nada que esses personagens façam para justificar que tenham tantos personagens apaixonados por eles. Quero dizer, não é necessário que exista uma explicação lógica para a paixão. No entanto, por se tratar de romances onde apenas um personagem é o alvo amoroso de muitos, a narrativa deveria ter melhores argumentos.

 5-toubun no Hanayome ∬ conseguiu contornar esse problema facilmente. Não acho o Fuutarou especialmente carismático. Ele é, no entanto, uma ótima pessoa. Ele fez coisas incríveis nessa segunda temporada. Ajudou as irmãs Nakano, entendeu as circunstâncias delas, foi atencioso e surpreendentemente delicado. Mesmo sendo geralmente rude, o Fuutarou muitas vezes demostra ter um lado fofo. Cinco irmãs apaixonadas pelo mesmo garoto não tem mesmo como ser algo verossímil (mesmo não sendo impossível de acontecer), mas a narrativa tem me levado à entender os motivos de cada uma delas. Então, dessa vez, o romance funcionou perfeitamente comigo porque o protagonista masculino foi muito convincente.

 O Fuutarou é, provavelmente, o personagem da obra com menos desenvolvimento até o momento. Ainda assim, ele está sempre fazendo coisas que antes não faria. As quíntuplas também o fazem mudar. Se comparado ao início, ele já está bastante diferente. Mais aberto e menos antissocial. O lado fofo e a gentileza são característica que ele sempre teve, embora demostrasse menos. Boa parte do desenvolvimento dele parece consistir em descobrir sua própria personalidade. Essa é uma forma sutil e muito boa de abordar temas psicossociais importantes. Acho particularmente interessante a maneira como ele entendeu que as circunstâncias que envolvem as quíntuplas eram bem mais sérias do que parecia inicialmente. E também, como ele tenta entender cada uma delas. Fuutarou é uma ótima pessoa pra se ter por perto. 

  Gotoubun no Hanayome 


 Depois de falar tanto sobre desenvolvimento de personagens, eu devo dizer que essa é apenas uma das qualidades que me fazem amar essa segunda temporada. O que me encantou, acima de qualquer outra coisa, foi a forma como o romance foi usado para trabalhar coisas mais sensíveis. 5-toubun no Hanayome ∬ abordou sobre questões familiares com um brilhantismo ímpar. As irmãs Nakano têm circunstâncias familiares bem mais profundas e interessantes do que aparentavam na primeira temporada. O desenvolvimento psicológico delas foi algo de extrema importância durante os acontecimentos do anime. E o mais importante, tudo foi tratado de uma maneira saudável. Não apenas as questões psicológicas, mas os relacionamentos também foram muito saudáveis. Todos eles são pessoas imperfeitas, portanto cometem erros. A parte falha de seus caráteres também foi usado para desenvolver ainda mais os laços familiares. Mais do que uma comédia romântica, 5-toubun no Hanayome ∬ foi uma história sobre amor, sobre família e sobre relacionamentos. Por abordar esses temas de uma maneira tão linda, diversas cenas ficaram muito marcantes. Nem queira saber o tanto que eu chorei no episódio 12.

 Por esse tanto de qualidades, 5-toubun no Hanayome ∬  se tornou facilmente o meu anime harém favorito. Essa obra não apenas quebrou muitos estereótipos do gênero, como ainda trouxe uma narrativa mais delicada  do que o comumente visto em obras de ficção no geral. A verdade é que não é tão fácil encontrar obras que falem sobre questões psicossociais adolescentes de uma maneira tão honesta e responsável. A parte psicológica dos personagens não é o plano de fundo, e sim o que faz a narrativa ir pra frente. É incrível o quão bem a obra soube trabalhar com as semelhanças e diferenças de cada quíntupla, e como isso afeta seus laços familiares. 5-toubun no Hanayome ∬  acertou em todos os elementos da obra. Desde o romance, até a comédia. E claro, um destaque especial para todas as cenas de drama e para todo o desenvolvimento dos personagens.

 Aparentemente o final do mangá divide opiniões. Eu não li, então não sei o que esperar. Mas, se teve algo que a segunda temporada me fez perceber, é que opiniões podem mudar. Muitas coisas que eu tinha como opinião consolidada, 5-toubun as subverteu totalmente. Por isso, independente do final da obra ser ou não bom, essa segunda temporada vai ser sempre por mim amada. Indiferente às convergentes opiniões que ouvi sobre o final do mangá, eu estou realmente ansioso para ver a continuação dessa história. Já que, além do romance, a obra também aborda muitas outras ótimas questões. E como você sabe, tudo que começa, eventualmente acaba.


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Texto escrito por: Maviael Nascimento, fanboy de um anime harém.

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