Komi-san wa Komyushou Desu: Arco da Rei



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Komi-san é linda.

Ela é maravilhosa quando passa,

e adorável quando senta.

Mas ela não tem nenhuma habilidade de comunicação.

E então um dia...

Uma menina com olhos de gato apareceu na sala dela.


Komi-san wa Komyushou Desu: Arco da Rei


 Komi-san wa Komyushou Desu é efetivamente uma comédia romântica. Não somente isso, também é um mangá que fala sobre distúrbios de comunicação. A personagem que dá o título à série, Komi Shouko, representa o extremo desse problema social. Uma curiosidade sobre transtornos de comunicação, é que isso é mais comum em crianças até os 7 anos de idade. Não coincidentemente, muito próximo da idade da Rei.

Primeiro dia:

 Rei Natsukido, ou simplesmente Rei-chan, apareceu como um trovão para iluminar diversas qualidades que o mangá vinha apresentando mais sutilmente, até o presente momento. O arco dela não apenas exemplificou muito bem algumas causas que podem levar a problemas básicos de comunicação, como ainda trouxe muito desenvolvimento pra Komi-san. Mais do que qualquer outro personagem tinha feito até então, em um curto período de tempo. Por trabalhar tão bem um dos principais temas da obra, por trazer desenvolvimento pra Komi-san e, principalmente por apresentar e posteriormente se despedir de uma personagem tão legal quanto a Rei-chan, esse arco se tornou facilmente minha parte favorita do mangá.

 Deixe-me apresentar a personagem em questão. Rei-chan é filha de uma ex-colega de classe da Komi Shuuko, mãe de Komi-san. Pelo fato dos pais dela estarem viajando, Rei-chan ficará hospedada durante uma semana na casa da Komi-san. Rei-chan é uma garota quieta e de personalidade educada. Aparentemente é muito madura para uma criança que ainda está na 2ª Série. Já em suas primeiras cenas, Rei-chan protagoniza alguns momentos muito engraçados, quando rejeita duas vezes a super popular Komi-san, o pai e a mãe dela.





 Esse capítulo de apresentação da Rei-chan é muito bem estruturado. Metade do capítulo é usado pra mostrar que pessoa a Rei-chan aparenta ser. Uma garota educada e independente, que é um pouco tsundere. Já a segunda metade do capítulo, é usada pra mostrar que existem muitas coisas por trás dessa primeira impressão da personagem. Quando a Komi-san se levanta no meio da madrugada para ir ao banheiro, acaba vendo Rei-chan chorando enquanto chama pela mãe. Esse momento que deixou ambas assustadas, acabou sendo o pontapé inicial de uma forte amizade entre elas. Ou seja, esse começo apresenta o início da premissa, ao mesmo tempo em que cria um cliffhanger que levanta questões. Quem realmente é Rei Natsukido? Ela realmente não gosta da Komi-san? Por que ela estava chorando?


Segundo dia:

 Depois de apresentar e despertar o interesse na personagem, é hora de revelar mais características básicas da Rei-chan. Literalmente a característica mais básica dela foi mostrada nesse capítulo. Que é o fato de que ela é apenas uma criança. Ela preferir ficar sozinha e rejeitar os adultos, não é exatamente algo comum para a idade dela. Provavelmente teve algo em seu desenvolvimento infantil que a fez achar que é melhor conseguir tudo por conta própria. E para mostrar essas características, nada melhor do que um capítulo muito engraçado. Nele temos a Komi-san mais uma vez sendo rejeitada algumas vezes pela Rei-chan. É hilário quando isso acontece, porque a Komi-san é endeusada por todos. A madona da escola. No entanto, essa garota com olhos de gato sempre a dispensa. Dessa vez Komi-san tenta insistir para brincar de boneca com a Rei-chan (embora na verdade, ambas só têm animais de pelúcia), sendo assim novamente rejeitada pela pequena tsundere. A chance aparece quando Komi-san vê que Rei-chan tem uma ursinha de pelúcia usando um vestido. Ao perguntar o nome da boneca, é descoberto que o nome dela é Elisabeth Alexandrine Josephine Jeanne Catherine Christianne, descendente da Casa Real de Alexandrine e da Casa Nobre de Christianne. Ela é a quinta na linha sucessória, não conhece muito sobre o mundo, é teimosa mas também desajeitada, no entanto, às vezes diz algumas coisas capaz de matar uma charada e faz todos exclamarem: "uau!". Essa criativa apresentação para uma boneca, deixa claro que Rei-chan é uma criança cheia de imaginação como qualquer outra. Na verdade, a criatividade dela é excepcional pra uma criança de 8 anos. Depois de fazer a Komi-san dizer o nome das pelúcias dela, as duas acabam brincando durante 3 horas. Rei-chan criou uma história cheia de traições e reviravoltas. A Rei-chan está fazendo expressões bem alegres. Mas o modo tsundere é ativado imediatamente após a brincadeira ser interrompida. Foi um grande passo, mas um conflito não pode ser resolvido antes mesmo de se apresentar. O capítulo termina com a Rei-chan dormindo abraçada aos animais de pelúcia da Komi-san.

 Esse capítulo também tem uma estrutura meio-a-meio. As primeira páginas tem uma Rei-chan resistente às interações com outras pessoas. Mesmo sendo muito comportada, ela vai muito longe para dar o mínimo de trabalho possível. Sempre agradecendo pela hospitalidade. É como se ela não quisesse se aproximar de ninguém, ao mesmo tempo que não quer parecer ingrata. Na segunda metade do capítulo, fica claro que ela tem as mesmas necessidades de qualquer criança comum. Brincar, sorrir, ser cuidada, interagir com as pessoas ao redor, fazer amizades, etc. Bastou a Komi-san criar uma oportunidade que a Rei-chan entrou totalmente na brincadeira de bonecas.


Terceiro dia:

 Um pouco do romance...? Talvez. O Tadano e a Najimi aparecem de surpresa na casa da Komi-san. Depois os dois, mais a Komi-san e a Rei-chan vão em uma lanchonete com o objetivo de comprar o lanche que vem bonecos de Sokemon (paródia de Pokémon) como brinde. Dos quatro brinquedos que vêm nos lanches deles, o Sukachu (paródia de você sabe quem) que veio pro Tadano é aparentemente o mais valioso. Najimi insiste que ele troque pela Soke-sec (um Sokemon que é uma secretária fumante) que veio pra ela. Ele nega. Mas depois de perceber que a Rei-chan queria o Sukachu, ele pede pra trocar com a Rei-chan. Coisa que ela obviamente rejeita. É uma mini-tsundere, esqueceu? Mas ai o Tadano diz que gosta muito do brinquedo que ela ganhou (fica óbvio que ele nem sabe que é um Sukertle), então ela aceita a troca. Depois disso ela fica apegada a ele, enquanto tenta fugir das loucuras da Najimi. Não tem realmente desenvolvimento romântico nessa parte. Ainda assim, é esse tipo de coisa que faz a Komi-san gostar do Tadano. E esse é o tipo de relacionamento entre os dois que a obra vem desenvolvendo desde o começo entre os dois.


 A participação da Najimi nesse capítulo é mais legal que a do Tadano (não só nesse capítulo, diga-se de passagem), na verdade. A Najimi é muito engraçada. O contraste da animação dela com a tsunderice da Rei-chan gerou várias cenas divertidas. A Najimi faz ela se divertir muito, mas a Rei-chan não admite isso, do começo ao fim do capítulo. É mesmo uma tsundere.



Quarto dia:

 Distúrbio de comunicação. Se caracteriza na dificuldade que a pessoa encontra em estabelecer as formas convencionais de comunicação.

 Agora vemos um começo de capítulo diferente. Uma breve explicação de algo que pode ser considerado um distúrbio de comunicação. Quando uma pessoa tem que passar por várias situações de despedida e momentos de solidão, ela pode decidir que a comunicação é desnecessária. Virando a página, não existe mais a contagem de quantos dias Rei-chan está na casa de Komi-san. Como se atualmente Rei-chan não estivesse percebendo a passagem dos dias por estar se divertindo muito. Dias em que Rei-chan começou a gostar da Komi-san. Quando ela se deu conta disso, a garota surtou. Os seus traumas de tantas despedidas vieram à tona. Esse acesso de raiva e essa fuga se justifica justamente porque a Rei-chan é uma criança. 

 A Rei-chan ter fugido faz a Komi-san pedir ajuda de seus amigos. Isso por si só é um grande passo pra ela. Geralmente ela não teria coragem de fazer isso, se fosse pra si mesma. Desde que a Rei-chan apareceu, Komi-san está falando bem mais que o normal. Ela quer fazer 100 amigos antes de se formar, mas essa é a primeira vez em que ela se sente tão próxima de uma criança. E a Rei-chan tem uma barreira que ela mesma criou. Rei-chan tem se mudado diversas vezes, desde o jardim de infância. Sempre que conhecia novas pessoas, tinha que se despedir pouco tempo depois. Por não poder rever essas pessoas, ela deduziu que não tinha sentido em conhecê-las. Então Rei-chan decidiu que iria falar apenas o necessário, e não sorrir mais. Foi a forma com que ela escolheu lidar com a solidão e a ausência dos pais que quase sempre estão fora a trabalho. Uma decisão precipitada, mas condizente com sua lógica infantil. O que se entendia como tsundere, era, na verdade, a Rei-chan se achando uma pessoa desagradável. É uma construção narrativa muito boa pra uma personagem que tem 8 anos de idade.


Quinto dia:

 Na manhã logo após os acontecimentos passados, Komi-san e Rei-chan vão ao parque. Aparece a waifu suprema, Onemine Nene. Um monte de conteúdo-slice-of-life-de-qualidade. Rei-chan se divertindo de montão e finalmente falando as palavras que anteriormente a fizeram perceber que estava ficando próxima da Komi-san:


Sexto dia:

 Última noite da Rei-chan na casa dos Komi. Nesse ponto, algo já está muito claro. Que, mesmo que a Rei-chan tenha esses pensamentos sobre solidão, ela continua sendo uma criança. Mesmo que ela não queira, as coisas ao redor continuam a influenciando. A barreira mental que ela criou é tão simples quanto a lógica de uma criança. Komi-san conseguiu a transpor apenas estando lá, brincando e se preocupando com ela. Depois que elas se entenderam um pouco, a Rei-chan tem cada vez mais momentos em que ela age como qualquer criança. Provavelmente ela fica tão envolvida que nem percebe isso. Nesse capítulo elas tomam banho e se divertem na banheira (enquanto isso o Tadano levou centenas de capítulos só pra entender o que sente pela Komi-san). Depois a Rei-chan por conta própria vai dormir no quarto da Komi-san. Após algumas conversas, Komi-san confessa que acha a Rei-chan incrível por ir em tanto lugares e conhecer muitas pessoas. Se for assim, não importa onde Rei-chan for no futuro, sempre terá alguém que ela conhece. Uma lógica que talvez nunca tenha passado pela cabeça de Rei-chan. E então elas apostam pra ver quem entre elas fará 100 amigos primeiro.


Sétimo dia:

 Hora de dizer adeus para Rei-chan. A mãe dela veio buscá-la. Aparentemente elas agora irão viver na América (Rei-chan aparece mais pra frente no mangá, durante o arco de Nova York). A mãe da Rei-chan fica surpresa ao ver a filha se divertindo tanto. A despedida entre Komi-san e Rei-chan é simples, como seria de se esperar de duas garotas tímidas. Mas, a Komi-san derrama algumas lágrimas. A Rei-chan, ao contrário da Komi-san, se despede sorrindo... Pelo menos até chegar ao carro.



 Esse arco não é excepcionalmente complexo, nem nada do tipo. Na verdade, é um arco simples. E é exatamente nisso que ele é incrível. A Rei-chan por todos esses capítulo recebe caracterização de personagem que reforçam que ela é uma criança. E o autor, Tomohito Oda, fez isso incrivelmente bem. Não é fácil escrever personagens crianças, ainda mais quando se trabalha a parte psicológica dos mesmos. O Tomohito equilibrou bem a complexidade do problema dela com o fato da Rei-chan ser uma menina de 8 anos. Ao longo de apenas 9 episódios, ela foi perfeitamente caracterizada, desenvolvida e teve a conclusão ideal para o seu conflito.

 A Komi-san também teve bastante desenvolvimento durante o arco. Só o fato dela ter influenciado tão positivamente o coração de uma criança, já é algo incrível pra alguém que é tímida ao extremo. Ela brincou, se divertiu, pediu ajuda dos amigos, abriu seus sentimentos e fez uma nova e especial amiga. Ela até mesmo deu conselhos se baseando nas experiências que teve anteriormente. Foi uma amizade especial em um arco especial. Esse tipo de tema, sobre amizade e comunicação, é parte dessa obra que fala sobre uma garota com sérios distúrbios de comunicação. A obra conseguir passar isso, sem nunca deixar de ser uma comédia, é um dos pontos mais positivos de Komi-san wa Komyushou Desu.



Rei-chan wa Omake Desu


  

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Texto escrito por: Maviael Nascimento - Todo menino é uma Rei, e eu também já fui Rei.

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