A Potte Dentro de um Potinho

 "Quando eu era pequena, lembro que meu pai apontava a câmera para o chão. Não conseguia imaginar o que ele estaria fotografando. No final, descobri que ele estava fotografando a luz do sol por entre as árvores. Aquela foto ficou tão bonita que não conseguia parar de olhar pra ela. Acho que talvez esse tenha sido o começo." - Fuu Sawatari.


Animelancolia apresenta:

 

 Tal qual uma fotografia, a vida da Potte ficou parada no tempo. A perda do pai causou nela uma dor tão grande que ela já não mais conseguia sorrir como antes. Voltar a fotografar estava completamente fora de questão. As fotos eram aquilo que mais a lembrava do pai. Os momentos felizes que o pai costumava fotografar, se converteram em lembranças dolorosas para Potte. Então um dia, quando Potte voltara da escola, seu pequeno irmãozinho, Kou, estava olhando um antigo álbum de fotografias enquanto sorria e se divertia distraidamente. Aquela cena fez Potte perceber que, as lembranças que lhe traziam dor, eram para o seu irmão aquilo que deveriam ser; momentos felizes e preciosos que não podem ser esquecidos. Potte descobriu que, em algum momento, olhar para aquelas lembranças deixou de ser algo triste pra ela. Não importa onde ela vá ou que quer que ela faça, o pai dela sempre estará em seu coração. Todas as coisas que ele ensinou, os bons momentos que ele trouxe, tudo guardado no coração de Potte, além de tudo que ela ainda pode conhecer sobre ele. Isso a fez ficar mais decidida, posteriormente fazendo-a querer morar em Takehara, a cidade que o pai dela amava. A vida da Potte deixou de ser como uma fotografia, e voltou a se mover.

 Devido as circunstâncias da Potte, de querer saber mais sobre o Kazuma, cada pequena descoberta importa. Isso faz com que Potte esteja constantemente se desenvolvendo, aprendendo, experienciando. Grandes acontecimentos, ou mesmo momentos singelos, tudo isso faz a Potte se desenvolver e encontrar seu próprio caminho enquanto presencia as mesmas coisas que o pai presenciou. Talvez não os mesmos cenários, mas certamente os mesmos sentimentos. As lembranças que conectam o passado e o presente, e que permite conhecer a fundo tanto a Potte quanto o Kazuma.


 "E enquanto olhávamos e torcíamos por você, enquanto tentava transpor esse grande obstáculo, pensamos que também gostaríamos de fazer alguma coisa. Por isso, quero continuar torcendo por você." - Kaoru Hanawa.


 Potte é muito amada por todas as pessoas que a cercam. Com sua simpatia tímida, seu jeito distraído e todo aquele "fuwa fuwa", Potte desperta esse instinto de proteção nas pessoas. Uma menina tão especial, mas tão especial, que dá vontade de guardar em um potinho. Mas não é apenas isso que faz as pessoas torcerem por ela. Potte está sempre se esforçando pra superar as adversidades. Dando o seu melhor pra se tornar mais forte e independente. Sempre querendo agarrar todas as coisas, todos os momentos, com suas pequenas mãos. E enquanto dão forças à ela, todos também se tornam mais fortes.  Por isso, não importa quando nem onde, todos que a conhecem continuam torcendo por ela. E assim, com apoio mútuo, e se inspirando nos esforços uns dos outros, todos vão mudando aos poucos.

 Até mesmo a pessoa que aparentemente não se deu bem com ela inicialmente, também aprendeu algo com a Potte. O Nozomu entrou na vida da Potte remexendo em todas as suas dúvidas. Fazendo-a pensar até mesmo se a fotografia é algo que ela simplesmente ama, ou algo que ela quer levar a sério. Diferente das outras pessoas, ele a tirou de sua zona de conforto. No fim, a coragem e os sentimentos que ela bota em tudo que faz acabou mudando o Nozomu mais do que ele mudou ela. Mas foi o Nozomu que, como se fosse um enviado do Kazuma, estava lá no momento em que Potte precisava aprender abrir mão das coisas e assim chegar à independência necessária para o futuro.


 "As coisas que meu pai viu... As coisas que vi com ele... Quero continuar tirando fotos com essa câmera. Aqueles lugares repletos de lembranças preciosas, e as lembranças que farei daqui pra frente. Quero ver e experimentar tudo isso junto com essa câmera. Para que essas fotos sejam o meu precioso tesouro." - Fuu Sawatari.


 O barulho que o obturador da velha câmera Rollei 35 S faz quando tira uma foto, é uma das muitas coisas que remetem às memórias sobre aquela pessoa. A primeira vez foi quando a Potte percebeu que podia olhar as fotos antigas sem se sentir triste. Nesse momento todos os sentimentos capturados pelo Kazuma inundaram o coração da Potte e o encheu de emoções. Quando ela voltou pra Takehara com o intuito de ver as mesmas coisas que o pai dela viu, isso ocasionalmente proporcionou à ela diversas experiências diferentes. A foto que quando criança ela tirou, do Kazuma contra a luz do sol, acabou por, futuramente criar novos laços de amizade com outras pessoas. Assim como muitas coisas que ela viveu, aconteceram por causa da pessoa que o Kazuma foi, e das coisas que ele ensinou para ela. A Potte é uma pessoa assim incrível porque ela é a preciosa filha do Kazuma. A personalidade dela, além da possível herança genética, é também o legado dele. Do mundo que ele sem querer preparou para Potte.

 Com o passar do tempo, Potte vai descobrindo várias coisas novas sobre o pai. Sobre o tipo de pessoa que ele era, como ele foi durante a juventude, as coisas que ele viu, os lugares que ele foi, as pessoas que ele conheceu. Todos os elementos que fazem ele ser o homem que foi tão profundamente amado por tanta gente. E enquanto ela conhece mais sobre o pai, Potte aprende mais sobre si mesma. Criando sua própria visão do mundo através da lente da câmera do Kazuma.


 "Mesmo em nossas rotinas diárias imutáveis, há algumas coisas que mudam lentamente com o tempo. Nunca poderemos voltar ao tempo que passou, mas é por isso que nos seguramos a ele e o atesouramos, mantendo as lembranças guardadas em nossos corações. Como cada dia começa como qualquer outro, nosso ambiente normal e cotidiano, dará luz à novas lembranças. Então vamos voltar à nossa rotina familiar mais uma vez hoje." - Fuu Sawatari. 


 Existe o conceito do potinho mágico imaginário. Ele serve pra guardar aquelas pessoas especiais que queremos proteger de todas as coisas ruins, para que nada possa machucá-las. Se esse potinho realmente existisse, a Potte certamente estaria dentro de um. Não são poucas as pessoas que iriam querer a Potte dentro de seus potinhos de proteção. Seus amigos, seus familiares e com certeza o Kazuma também a guardaria, se ele estivesse vivo. Mas esse potinho mágico não existe, e tampouco a Potte precisaria ser protegida dessa forma. Ela foi profundamente abalada quando o Kazuma se foi, o seu jeito mudou e ela se resignou da felicidade durante muito tempo. Talvez seu processo pra se reerguer tenha sido lento e doloroso. Mas, de alguma forma, ela descobriu o que tinha que fazer. E assim é a Potte. De uma forma ou de outra, ela sempre descobre o que tem que fazer, e o faz com toda a sua coragem. Se tornando uma pessoa mais e mais decidida a cada vez em que supera um novo desafio. Não é necessário querer blindá-la dos problemas. É certo que ela vai encontrar o jeito certo de resolver, seja o que for.

 Quando criança, Potte era um turbilhão de emoções. Sempre sorrindo muito ou chorando muito, o que estivesse com mais vontade no momento. Quando as coisas saiam diferentes do que ela queria, a pequena criança fazia birra e ficava com a cara fechada. Nesses momentos, os de sorrisos e também os de choro, o Kazuma estava lá com ela. Logo após ele ter falecido, e durante um longo, longo tempo, Potte deixou de querer as coisas para si mesma. Uma grande mudança veio sobre ela, pelo menos até ela recuperar a alegria de estar viva. Desde que começou a se reerguer, a Rollei 35 s sempre esteve ao seu lado. Como se fosse o próprio Kazuma, guiando e cuidando da sua filhinha. Em momentos difíceis ela abraçava a câmera, como se fosse os braços do Kazuma. As fotos, os ensinamentos e a existência dele, continuaram trazendo mais e mais momentos e pessoas na vida da Potte. E então, um dia, a câmera quebrou. Mas novamente, isso aconteceu como se fosse uma interseção do Kazuma. Nessa ocasião faltava apenas um último ensinamento para Potte se tornar uma adulta independente. Essa lição era que ela precisava aprender abrir mão de algumas coisas e enfim se tornar uma adulta. Ao ser inspirada por muitas pessoas e experiências, Potte decidiu por conta própria que queria ser uma fotógrafa profissional. Para tal objetivo, a antiga câmera já não era mais suficiente. Além disso, Potte já havia amadurecido tanto e experienciado tantas coisa diferentes, que ela já entendia a importância do pai na vida dela. Potte enfim estava pronta para ver o mundo com seus próprios olhos. Afinal, existe uma característica dela que não mudou, mesmo após a morte do Kazuma. A Potte, desde criança e até agora, ou mesmo no futuro, é alguém que, mesmo sem perceber, quer agarrar o mundo inteiro com as próprias mãos. Sem dúvidas uma garota muito decidida.


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Texto escrito por: Maviael Nascimento, relembrando aquela canção: "Brilha onde estiver! Faz da lágrima o sangue que nos deixa de pé, rainha! Rainha!"

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