Pokémon Journeys + Arco: Noite de Solstício de Verão (Darkrai & Cresselia)


 

 Acho que eu tenho as qualificações exatas para poder escrever sobre Pokémon (2019), também conhecido como Pokémon Journeys. Quando o Pokémon Gotta Catch 'Em All foi ao ar pela primeira vez no Brasil, em 1999, eu estava curtindo a minha mais tenra infância. E foi com Pokémon que, pela primeira vez, eu soube o que era um anime. Foi também, a primeira obra em animação que me arrebatou de verdade. Fui fã da franquia nos animes durante muitos anos. Mesmo depois de já ter entrando na adolescência, acabei ficando ainda mais fã de Pokémon por causa da chegada do Orkut, onde era possível encontrar diversas ótimas comunidades sobre esse anime (saudades Orkut). Isso continuou até o final do Diamond & Pearl. Chegava-se ao fim a grande era dos animes na TV aberta. O próprio anime de Pokémon já estava desgastado na minha experiência pessoal ao assistir a obra. Depois de parar de passar na TV aberta, não me interessei mais em procurar outros meios pra continuar assistindo. Com isso, acabei não assistindo nada que passou depois do Diamond & Pearl. Eis que, por causa de uma certa seiyuu que eu acompanho todos os animes religiosamente, eu me vi "obrigado" a assistir o mais recente anime da franquia, o Pokémon Journeys. E isso me faria amar a franquia novamente.


Pokémon Journeys (sem spoiler)


 Aparentemente muitos fãs de Pokémon também concordam comigo sobre a fórmula do anime está um tanto desgastada. Principalmente em relação ao Ash (Satoshi, no original). Não acho que o Ash seja realmente um personagem odiado. O problema é, por ser sempre focado nele e em sua busca eterna por insígnias, o Ash estava basicamente limitando as possibilidades do mundo Pokémon. É quase como uma idiossincrasia no mundo Pokémon nos animes. Sempre a visão do Ash, as possibilidades do Ash. Mesmo que ele sempre tenha novos companheiros de viagem, isso não mudava muita coisa sobre como o mundo Pokémon é passado para o telespectador. Por isso que muita gente prefere os mangás e os games, ao invés do anime. O próprio Hakumei no Tsubasa mostrou vertentes desse mundo que eu nunca tinha visto antes em nenhum dos mais de 700 episódios que assisti de Pokémon.



 Foi com essa expectativa baixa que comecei a jornada do Journeys. Surpreendentemente, os primeiros episódios já quebraram totalmente o que eu esperava da obra. Em uma certa cena, o novo companheiro de aventuras do Ash, o Gou, fez algo completamente inédito pra mim. Enquanto voava nas costas de um Lugia, o Gou descreveu como é fisiologia desse pokémon lendário. Como as barbatanas dele se movem, a aspereza da pele. Bem, a obra não seguiu por esse caminho de explicar mais detalhadamente sobre a diversidade do mundo de Pokémon, mas certamente ele trouxe várias coisas novas. O Gou é um personagem que tem uma curiosidade diferente do Ash. O Gou gosta de entender o motivo das coisas. Pra ser justo, devo admitir que o desenvolvimento de personagem dele o tornou parecido demais com o Ash.



 Além do Gou, outra personagem nova importante é a Koharu (Chloe na versão ocidental). E essa sim é uma personagem que poderia ser usada pra explorar melhor o vasto mundo Pokémon. A Koharu é filha de um professor pokémon, e no mundo de Pokémon é dito que, filhos de professores, também se tornam professores. A Koharu, no entanto, sente um certo incômodo em relação a isso. Ela não gosta da ideia das possibilidades dela serem limitadas por uma circunstância. Isso faz ela ter uma atitude mais desinteressada sobre os pokémons. É exatamente isso o que a torna uma personagem tão interessante pra franquia. Mesmo não compartilhando do interesse do Ash, a Koharu acaba indo em algumas aventuras pokémon. Aos poucos, conforme sua participação na série aumenta, Koharu descobre coisas interessantes sobre essas criaturinhas. O seu coração e sua resistência vão mudando aos poucos. Ela traz uma visão diferente sobre esse mundo. Ela continua mantendo a atitude de não saber exatamente o que quer, mas tendo a certeza de que a decisão cabe unicamente à ela. Ao mesmo tempo, Koharu descobre a infinidade de opções que existem. Assim como um Eevee, que pode evoluir para várias formas diferentes, ou pode continuar sendo um Eevee, se quiser. Koharu é perfeita pra explorar toda a riqueza da construção de mundo nessa franquia, e é também, uma personagem bastante incomum que traz um ar completamente novo.

 O próprio Ash também mudou um pouco. Os interesses dele agora são diferentes do que apenas andar por ai e competir em torneios. No entanto, Ash continua sendo uma criança, e o mundo é uma grande aventura pra ele. Acompanhar a história através dos olhos dele, não tem muita diferença do que já era antes. As aventuras em si, e os novos companheiros, além de personagens antigos reaparecendo a todo momento, foi o que realmente trouxe um novo frescor em Pokémon, e que me fez sentir as mesmas emoções da infância. Continua sendo um anime infantil, logo, sempre terão aqueles episódios que não acrescentam em nada. Mas, o Journeys é cheio de episódios excelentes e que me transportam diretamente para minha infância, mas ainda curtindo em Pokémon as coisas que me interessam mais hoje em dia nos animes. De certa forma, os tipos de personagens apresentados, o novo tipo de desenvolvimento que o Ash recebe, personagens dos games aparecendo e todas as regiões sendo exploradas, tudo isso trouxe uma experiência nova pra mim. Enquanto isso, personagens queridos fazem participações especiais, pokémons clássicos aparecem e a nostalgia das regiões, trazem à tona sentimentos antigos, de relembrar porque eu amava tanto essa obra. O velho e o novo andando juntos, trouxeram uma experiência que só senti no Journeys.

 Falando sobre regiões e participações especiais, acho que esse é um ponto muito legal da obra. Eu não acho que isso vá acontecer, mas, de certa forma, o Journeys passa um certo clima de despedida para o Ash. Ele tem percorrido todas as regiões onde já competiu em torneios. Vivendo aventuras diferentes nelas. Estou escrevendo isso logo após o lançamento do episódio 75, e, nesse ponto, o Ash pôde reencontrar vários amigos que compartilharam da jornada dele. Novos personagens de outras veredas da franquia também apareceram e estabeleceram grandes amizades ou rivalidades com o Ash. Como a maravilhosa Bea (Saito no original), que protagonizou uma das batalhas mais memoráveis do Ash. E além de tudo, ao invés de visar os torneios regionais, Ash agora quer se tornar nada menos do que o campeão mundial. E se isso acontecer, sem dúvidas será a despedida do Ash. O que mais ele poderia querer depois de se tornar o campeão mundial? O difícil é imaginar ele conseguindo essa façanha com o nível e a idade que ele tem atualmente.

 A verdade é que o Ash não precisa sair totalmente da franquia. Provavelmente ele é bem mais amado do que odiado. Mas, praqueles que, assim como eu, acompanham Pokémon unicamente pelos animes, seria ótimo poder acompanhar outros personagens, fazendo outras coisas, pensando diferente, se desenvolvendo à própria maneira. O próprio Journeys apresentou muitos personagens que seriam protagonistas incríveis. Além da própria Koharu e do Gou, a Bea, a Dawn, a Sonia e mesmo o Gary (que é protagonista em jogos), seriam protagonistas muito interessantes. Além da infinidade de personagens dos games. Algo que seria uma possibilidade muito interessante pra mim, seria um anime de pokémon que não fosse infantil, e focasse em personagens como a Bea ou a Nessa, tipo o que foi feito no Hakumei no Tsubasa. Essas duas em particular eu acho bem interessantes. Elas são mulheres, e elas são negras, e elas são musculosas. Essas são representatividades que Pokémon bem que poderia tomar pra si. As possibilidades são infinitas, assim como são para a Koharu, para o Eevee e para o mundo Pokémon.



Arco: Noite de Solstício de Verão (poucos e irrelevantes spoilers)


 Eis que, 9 anos depois, a personagens que muitos (muitos, mesmo) consideram como sendo a melhor de toda a franquia, finalmente está de volta!!! Diferente do que eu esperava, a mais recente aparição da Dawn (Hikari no original) em Pokémon soou como algo muito mais inédito do que nostálgico. Ao invés do Ash, quem realmente protagonizou esse arco junto com a Dawn, foi ninguém menos que a Koharu. E a combinação entre essas duas foi um dos melhores momentos propiciados pelo Journeys. Eu adoro a Dawn, e sem dúvidas ela sempre foi carismática. No entanto, quando ela reapareceu, foi  surpreendente perceber como ela é MUITO mais carismática do que eu lembrava. Talvez seja porque a dublagem brasileira acaba inevitavelmente mudando o contexto da personagem, mas a Dawn é muito diferente do que eu lembrava. Ela tem um jeito muito leve e relaxado de viver, tal qual uma hippie. Não é que ela seja irresponsável, ela apenas está vivendo a vida ao máximo. Ela mantem os mesmo sonhos e aspirações desde quando se despediu do Ash, mas ela não tá realmente com pressa de que o futuro chegue. Por outro lado, a Koharu é uma garota muito diligente. Ela gosta das coisas da forma como têm que ser. De preferência, sem atrasos e sem riscos. Ela vem mudando muito ao longo do anime. Tanto que esse arco não existiria sem isso. Já que ele começou justamente por causa de uma viagem cancelada pelos pais de Koharu. Mesmo receosa e chateada, ela decidiu ir sozinha.



 Resolvi escrever sobre o Journeys e sobre esse arco simultaneamente, justamente pra abordar certos temas no arco, e na franquia como um todo. Esse arco é uma das muitas passagens dos animes que mostram como protagonistas novos poderiam fazer muito bem pra franquia. A combinação Koharu + Dawn foi extremamente interessante. A diferença entre a personalidade responsável da Koharu e as atitudes aparentemente despreocupadas da Dawn fizeram uma combinação perfeita. O jeitinho da Dawn de pouco em pouco vai convencendo a Koharu a não se preocupar exageradamente sobre tudo. A amizade entre elas vai crescendo como se elas estivessem dançando. A Koharu parece estar sempre sendo levada pela Dawn. Mesmo nesses 2 episódios já deu pra ver como seria interessante um anime focado nas duas.



 A combinação das duas está diretamente ligada aos dois pokémons que são o tema do arco, e também está ligado a toda a temática do arco. O Darkrai é um pokémon que é temido por causar pesadelos nas pessoas. A Cresselia tem o poder de anular esses pesadelos. Então nós temos a região de Sinnoh sendo atormentada por sonhos ruins. A Cresselia foi encontrada terrivelmente machucada. A culpa de tudo parece ser do Darkrai, já que ele e a Cresselia mantêm um relacionamento hostil, como é definido pela própria Dawn. Devido às suas personalidades divergentes, não tem como esperar que eles possam ser amigos. Assim como também não seria esperado que a diligente Koharu e a animada Dawn pudessem formar uma boa dupla. Mas, será que as diferenças precisam mesmo causar enganos?



 Pokémon Journeys é um anime infantil, mas isso não o impede de ter uma certa profundidade em seu subtexto. Esse arco tem os temas mais comuns de Pokémon, como amizade e sonhos, mas ele também fala sobre as pessoas serem diferentes e como isso gera preconceitos. A beleza da amizade das duas consiste justamente nessas diferenças. Elas também possuem coisas em comum. Elas pensam parecido sobre o futuro. As suas diferenças causaram uma pequena divergência entre as duas, mas não demorou muito pra elas perceberem que isso não é importante. No fim, as diferenças entre Koharu e Dawn são, na verdade, complementares. É o que faz elas se tornarem uma ótima dupla em tão pouco tempo.



 O segundo e último episódio do arco, intitulado "Cresselia - A Luz da Noite de Solstício de Verão", teve uma narrativa visual muito linda. Além disso e de toda a narrativa da Koharu e Dawn, o arco ainda contou com uma batalha muito boa e momentos pra deixar qualquer fã pulando de emoção. E o final do arco é muito bonitinho. Diferente do que fiz em todas as vezes que escrevi posts sobre arcos, nesse aqui eu optei por não dar muitos spoilers relevantes. O que eu posso fazer é usar esse arco pra ressaltar aquilo que falei no começo do texto, sobre eu ter as qualificações exatas pra falar sobre o Journeys. Afinal, eu abandonei a obra por ela não exercer mais as mesmas emoções em mim. No entanto, esse arco e muitos outros episódios do Journeys, conseguem me fazer sentir aquela empolgação vibrante de quando eu assistia Pokémon na minha infância. O Jorneys tem uma progressão episódica muito boa. Apesar de ainda ter seus pontos baixos, a obra continua ficando cada vez mais interessante. As batalhas cada vez melhores. Agora que o Ash tá percorrendo todas as regiões, isso me fez perceber como o mundo Pokémon é gigantesco. Sem dúvidas é um anime que merece ser assistido. E ainda dá pra torcer para que, no futuro, Pokémon comece a explorar mais possibilidades e mais personagens nos próximos animes.


Obrigado por ter lido!



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Texto escrito por: Maviael Nascimento, defendendo os males da verdade e do amor.

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